quarta-feira, 19 de março de 2014

DEUS ODEIA O PECADO E AMA O PECADOR?

A frase “Deus ama os pecadores, mas odeia o pecado” não está na Bíblia. É fruto de uma reflexão derivada de uma psicologia secular, humanista e completamente diabólica. E o mais incrível é ver pessoas que se dizem crer em Deus por meio de Sua Palavra, exclamarem tal afirmação e afagarem o seu peito, defendendo com unhas e dentes tal jargão. Não importa se isso é anti-bíblico ou não; não importa todo o contexto; não importa a hermenêutica; nada disso importa; o que importa é que o “meu deus” é assim, amoroso sem limites. Esta é a ideia atual. É completamente incompatível e contradizente um Deus amoroso e misericordioso, possuir em Seu caráter um atributo chamado ódio. Primeiro, eles mesmos afirmam por meio de uma frase que não se encontra na Palavra de Deus, que Ele “odeia o pecado” e depois vem nos perguntar como Deus pode possui ódio em seu caráter? Espera aí! Isso é distúrbio mental.
Mas vamos olhar para o que a Palavra de Deus, a saber, a Bíblia Sagrada, nossa unica regra de fé e pratica nos diz:
“O SENHOR prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma.” (Salmos 11:5)
“Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.” (Provérbios 6:16-19)
“Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade.” (Salmos 5:5)
“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de eqüidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” (Hebreus 1:8-9)
“Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.” (Romanos 9:13) e muitos outros versículos que dizem a mesma coisa.
Os versículos acima citados são claros como a neve. Não podem serem negados por alguém que seja racional e pense logicamente. Não se pode separar o pecado do pecador. Não se pode punir o pecado e não pecador. No inferno, Deus não punirá o pecado fora do pecador, antes é o individuo o alvo principal da Ira de Deus. O pecado nasce no coração do homem. O homem é o fabricante do mesmo. O homem não apenas ama praticar o pecado, como ele em si mesmo é o pecado.
Mas agora, lhe digo: “Deus ama pecadores. Você pode dizer: Você não sabe o que fala. Primeiro diz que Deus odeia os pecadores e depois vem dizer o oposto disso? Isso é a pior contradição que já vi”. Não, isso não é uma contradição. Vejamos: Quando Deus salva uma pessoa, a regenera, veste-a com vestes brancas como a neve, com vestes de justiça. Os méritos de Cristo são atribuídos em sua vida. Deus a ama cristocêntricamente. Pelos méritos de Cristo, por sua perfeita e imaculada justiça. Mas o homem salvo continua sendo um pecador. Mas estes pecados são cobertos pela justiça eterna de Jesus. E esta justiça o leva a arrepender-se constantemente. Deus não as ama por aquilo que elas são, pois não há nada no homem digno de atrair em Deus seu afeto e amor, mas apenas seu ódio. Deus ama Cristocêntricamente pessoas salvas.
Fonte: Caráter Puritano

É triste ver a cristandade sendo enganada e ludibriada com esse evangelho aguado, torpe, morno, distorcido e satânico que é pregado hoje em dia nas “igrejas”. Chega de palhaçada, chega de brincar de pregar o Evangelho, chega de brincar de ouvir o Evangelho, chega de enganação! Voltemos para o puro e simples Evangelho da graça de Deus pregado por Jesus Cristo, seus apóstolos e tantos homens de Deus pela história afora. Dediquemo-nos com amor e respeito reverente à leitura e estudo da Palavra de Deus. O tempo se abrevia.
I Corintios 11:19 – “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.”
Que o amor de Deus e a Paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo sejam com todo o povo de Deus, hoje e sempre.
Em Cristo, Alessandro Baltieri

Leia a Bíblia.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Deus e a lógica: comprimindo Deus ou divinizando a razão?

Por Luciano Sena


Esse assunto ocupa um espaço nos debates Apologéticos, Cristãos e Reformados. Dentro no arraial cristão grupos digladiam-se - 'entre família'-, gastando energias (e outras coisas mais) para expor se um movimento será mais ou não... é... bíblico e/ou lógico? Bem é difícil até mesmo definir o real motivo da divisão.

Alguns destacariam que a lógica é tão importante, que mesmo uma postagem de um leigo não seria inteligível se não existisse lógica – quando as coisas não são bem explicadas, as coisas ficam sem lógica! Tal é a importância da lógica.

Precisamos ter algumas reservas quanto ao poder da lógica/razão; não em ser a lógica a conclusão necessária de toda proposição, mas como meio instrumental de receber, ou mesmo 'entender', Deus. Quando Deus usou a lógica para nos comunicar coisas (A Bíblia), não significa que tal instrumento, a lógica/razão, pode ser um veículo na nossa busca de Deus.

O Rev. Cleverson, professor de Teologia Sistemática no IBEL disse certa vez:“Deus é suprarracional.” Ele quis dizer que Deus está acima da lógica. Alguns poderiam sobrepor dizendo: “Como ele sabe disso? Não seria usando a lógica?” Simples: Reconhecendo que testaremos algumas doutrinas até certo ponto com a nossa capacidade. Mas ela não é o cânon para finalizar o exame.

Outros poderiam também destacar: “para Deus 1 + 1  é = 2???”  Bem, deve ser, visto que eu dei números e a 'regra matemática'!. Mas se Deus perguntasse algo de seu mundo para mim, ou mesmo algo em relação a como ele trabalha no tempo tendo todas as coisas diante de si desde toda a eternidade, lanço-me em terra e só posso repetir as palavras de Romanos 11.33-36.

Quando leio sofisticados argumentos filosóficos para provar a existência de Deus, fico impressionado com ‘tanta epistemologia’. Mas bem pouco de Evangelho que é o poder de Deus (Rm 1.16) – e segundo a lógica, poder é Poder!

"Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu ['religioso?'], e também do grego ['intelectual?']."

Não, por favor, não estou dizendo que são inúteis, só estou dizendo que tais argumentos sem o Evangelho pode convencer mas não converter! Você no máximo produzirá um teísta condenado ao inferno, mas não um pecador perdoado e regenerado para o céu, obra que o Espírito Santo só faz por meio da Palavra de Deus.

Para mim, leigo obviamente, o problema vai mais longe do que dividiu Clark de Van Til, mais fundo do que Sproul de Frame protagonizam. O grande problema é usar nossa limitação e não a revelação, achando que poderíamos chegar a alguma conclusão segura, sem o pleno conhecimento bíblico.

O mesmo pastor que citei, também disse: “O limite da lógica é a Escritura.*”

Meu pensamento é que Apologética é Evangelização. Eu não me identificaria com as linhas apologéticas que existem, embora todas são ótimas. Acredito que deveríamos ter um tipo de apologética adaptada, ao contexto e ao indivíduo que estamos evangelizando.

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*Veja parte de um estudo do Reverendo Cleverson Gilvan AQUI

domingo, 16 de março de 2014

OS EFEITOS DO EVANGELHO.

Os efeitos do Evangelho são de natureza completamente diferente. Eles consistem em que, em primeiro lugar, o Evangelho, ao exigir a fé, nos oferece e dá a fé na própria exigência. Quando nós pregamos ao povo: Creiam no Senhor Jesus Cristo, Deus lhes dá a fé através de nossa pregação. Nós pregamos fé, e toda a pessoa que não resiste obstinadamente, obtém fé. Não é, na verdade, o mero som físico da palavra falada que produz este efeito, mas o conteúdo da palavra.

O segundo efeito do Evangelho é que ele de modo algum condena o pecador, mas tira dele todo terror, todo medo e toda angústia, e o enche de paz e alegria no Espírito Santo. Quando o filho pródigo volta para casa, o pai não se refere nem com uma única palavra à conduta abominável e horrível do filho. Ele não diz nada, nada mesmo, a respeito de tudo isso. mas se atira nos braços do filho, beija-o e lhe prepara uma maravilhosa festa de boas-vindas. Essa é uma parábola gloriosa que nos mostra o efeito do Evangelho. Ele remove toda inquietude e nos enche com uma paz celestial e abençoada.

Em terceiro lugar, o Evangelho não exige nada da pessoa: não exige um bom coração, boa disposição, condição melhor, piedade, santidade, nem amor para com Deus ou para com o próximo. Não dá nenhuma ordem, mas modifica o indivíduo. Ele planta o amor no seu coração e o torna capaz de toda boa obra. Não exige nada, mas dá tudo. Tudo isso não é motivo para nós saltarmos de alegria?


- C. F. W. Walther, A correta distinção entre Lei e Evangelho, pág. 33.

sexta-feira, 14 de março de 2014

CARACTERÍSTICAS DA FÉ REFORMADA

Reformar ou renovar equivale a dar a forma que se tinha quando novo. Originalmente o terno Reformada caracterizava aquelas igrejas do século XVI que se levantaram para dar à Igreja da Idade Média a forma da Igreja primitiva, a forma original da Igreja. Em sentido amplo, esse termo podia ser aplicado a todas as igrejas da Reforma. Em tempos mais recentes, contudo, ele passou a ter um significado mais restrito, identificando as igrejas que professam as doutrinas da Graça, conforme apresentadas no sínodo de Dordtrech, na Holanda (1610-1618); o movimento ficou também conhecido como Calvinismo (cf. Harvie M. Conn - Teologia Contemporanea en el Mundo - pp. 149 ss).

Evidentemente, nunca foi propósito dos Reformadores fundar uma nova denominação. Lutero sempre viu a si mesmo como um fiel servo da Igreja. Daí o seu profundo desgosto pelo fato de os primeiros protestantes, na Inglaterra e na França, assim como na Alemanha, terem sido chamados luteranos. Isso pode ser visto em suas próprias palavras. Ele escreveu:
A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso do meu nome e não se chamem “luteranas”, mas “cristãs”. Quem é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. ... Como eu, miserável saco fétido de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome? (Timothy George - Teologia dos Reformadores - p. 55).

Lutero registrou assim o seu sentimento em 1522, sem falsa humildade, mas com um esforço real para impedir um culto à personalidade. Lamentavelmente, seu desejo não foi atendido nos termos em que ele colocou. A Igreja Luterana não cultua o seu maior teólogo, mas o seu nome continua a identificar a denominação.

Já no trabalho de Calvino, reformando a crença na autoridade de Cristo e na Palavra de Deus como única regra de fé e prática, com forte ênfase no sistema de governo da Igreja; o movimento passou a ser conhecido por essas características. Assim, raramente se ouve sobre calvinismo, exceto nos círculos teológicos. Nossa Igreja não se chamaIgreja Calvinista, como também não se chama Igreja Paulina; e os escritos de Paulo são muito mais importantes que os de qualquer reformador. Na verdade, duas das características do movimento deram nome aos seus adeptos: 1º- o termo “reformada” - oriundo do propósito dos Reformadores de dar à Igreja da Idade Média a forma da Igreja primitiva, a forma original da Igreja. Esse termo é largamente usado em todo o mundo; 2º - o termo “presbiterianismo” - decorrente da ênfase dada pelos Reformadores à forma de governo, indicando que a Igreja é regida pelos presbíteros.

A Fé Reformada possui quatro características básicas: (1) histórica; (2) doutrinária; (3) emocional; e (4) prática.

1º. Histórica: A queda; a chamada de Abraão; a encarnação, a vida, a morte e a ressurreição de Cristo. Como diz Paulo:

Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. Porque se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo, pereceram (I Co 15:12-18).

O argumento de Paulo é simples, ele diz que se a ressurreição de Jesus não é um fato histórico toda a nossa fé é inútil, indicando claramente que os fatos registrados na Bíblia, Antigo e Novo Testamentos, são históricos e verdadeiros. Assim, acreditamos que verdadeiramente Deus criou o mundo, como está registrado em Gênesis; e cremos em todos os relatos bíblicos como sendo a inerrante Palavra de Deus.

Mas se nós só pregarmos história, seremos meros repórteres que lêem um texto. Assim, por questão de justiça à Fé Reformada, ao defini-la, precisamos incluir as outras três características.

2º. Doutrinária: Se a doutrina não é ensinada o povo perece por falta de conhecimento e será levado por qualquer vento de ensino e por filosofias humanas produzidas por mentes corruptas.

Da Palavra de Deus recebemos o verdadeiro ensino quanto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; e a Palavra de Deus é o nosso livro texto para ensinar a verdade à Igreja.

Mas, à semelhança do que falamos sobre o aspecto histórico, também não podemos restringir nossa pregação ao caráter doutrinário, pois isso nos tornaria apenas címbalo que soa, meros ensinadores de fórmulas.

3º. Emocional: A menos que o Espírito de Deus opere, produzindo uma experiência viva em nós; a menos que sintamos o que Deus faz por nós; não seremos diferentes em nada das demais religiões.

Mas, novamente, se pregarmos somente emoção, então estaremos dando lugar à velha crítica marxista: “A religião é o ópio do povo”. Cada característica tem o seu lugar próprio na composição do que chamamos Fé Reformada.

4º. Prática: A Fé Reformada deu-nos: a) a Bíblia em nossa língua materna; b) o direito de cultuar conforme a nossa consciência; c) a prática apostólica da pregação do Evangelho; d) desenvolvimento da ciência.

Portanto, essas quatro características devem estar sempre presente na pregação Reformada, e é a integração delas que vai produzir o seu caráter mais importante e singular.

Alguém já disse que a Fé Reformada tem sido chamada de “doutrina de ferro”, e que mesmo isso não sendo um elogio, tem que ser admitido que ela tem produzido homens com caráter de aço: Calvino, Kuyper, Cromwell, Knox, etc.

A Teologia de Calvino foi responsável pelo despertamento religioso da Escócia. Foi a doutrina de Calvino, sobre o estado como servidor de Deus, que estabeleceu a idéia de governo constitucional e que conduziu ao reconhecimento dos direitos e liberdades dos súditos. Foi a Fé Reformada que valorizou a mulher, que incrementou a educação e o preparo de homens para melhor servir na comunidade. É duvidoso que algum teólogo tenha desempenhado um papel tão significativo quanto o de Calvino na história mundial.

I - A FORÇA DA FÉ REFORMADA

A Escritora batista Ruth A. Tucker, não sei se deliberadamente, minimiza o trabalho missionário da Fé Reformada, deixando bem claro o seu comprometimento confessional ao dizer:

Os calvinistas usavam geralmente a mesma linha de raciocínio (comparação feita com os luteranos) acrescentando a doutrina da eleição que faziam as missões parecerem inúteis se Deus já escolhera aqueles a quem iria salvar (Ruth A. Tucker - Até aos Confins da terra - p.70).
Sobre isso, há dois pontos a considerar:

Primeiro: Que a doutrina bíblica da eleição, não só não desestimula o evangelismo, como, pelo contrário, é um dos maiores incentivos à obra missionária. Senão vejamos: Como é do conhecimento de todos os crentes, o homem natural está morto em seus pecados e, nessa condição, de nada adiantaria pregar-lhe a Palavra de Deus, mesmo porque os mortos não possuem vontade, não podem ouvir. O que nos estimula a pregar, portanto, é o conhecimento de que o Espírito de Deus vai atuar em alguns abrindo-lhes os ouvidos para que ouçam e os olhos, para que vejam. Em quem atuará o Espírito de Deus? Em quem Deus quiser! Deus atuará em Seus eleitos. E louvado seja Deus pela bendita doutrina da Eleição, porque sem ela, de que nos adiantaria pregar o Evangelho para homens mortos?

Segundo: Que os frutos dos que crêem na doutrina da Eleição demonstram claramente o equívoco preconceituoso de Ruth Tucker: O que dizer da influência da Fé Reformada em Genebra; da obra de John Knox, na Escócia; do trabalho de Cromwell, na Inglaterra; de Kuyper, na Holanda; da colonização dos Estados Unidos; dos missionários enviados por Calvino ao Brasil? E se isso não fosse suficiente, uma rápida olhada na estatísticas comprovaria o equívoco dessa escritora: A Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, que se regem pelo sistema de presbíteros, inclui cento e vinte denominações independentes cujos membros atingem o número de quarenta e sete milhões (cf.Enciclopedia ilustrada de historia de la Iglesia - Samuel Vila & Dario A. Santamaria).

Whitehead, um filósofo e matemático ateu, disse que o cristianismo tem ensinado que Deus criou o mundo externo com existência real; e que, em virtude de Ele ser um Deus racional, os seres humanos podem decifrar a ordem do universo pelo uso da razão. Ele não era cristão, mas compreendeu que nunca teríamos a ciência moderna sem a perspectiva bíblica do cristianismo. E, mais uma vez, essa ênfase é decorrente da Fé Reformada.

A Igreja Presbiteriana Reformada tem se estendido para todo o mundo. A obra Reformada no Brasil, iniciada sem sucesso pelos Huguenotes em 1555; foi, em 1859, reiniciada pelos missionários americanos e é, atualmente, uma dos ramos da Igreja de Cristo de mais progresso no mundo.

Quando se deu a Reforma, em 1517, não se sabia até que ponto ela ia crescer. É gratificante testemunhar como Deus aceitou a atitude dos Reformadores. Desde então muito se tem falado sobre a Fé Reformada, mas nem mesmo a metade de seu valor, praticidade e beleza foi ainda contado.

Acredito que a causa que dá esse extraordinário poder à Igreja Reformada para seguir implantando os princípios bíblicos entre os povos é a sua singularidade: A Igreja Reformada reconhece sem qualquer reserva que Deus é Deus, e reconhece isso em todas as esferas da vida. Só a Igreja Reformada aceita a absoluta soberania de Deus, para a glória do Senhor e o reino de Sua lei em todos os aspectos.

Sustentar que Deus é Deus eqüivale a dizer que o homem é aquilo que a Palavra de Deus diz que ele é. A Igreja Romana confessa a absoluta soberania de Deus, mas não admite que o homem seja aquilo que Deus diz que ele é; e tanto na antropologia quanto na soteriologia ela é semipelagiana. Os arminianos também se aproximam dessa mesma situação.

O que significa ver Deus como Deus e o homem como Deus diz que ele é? Na verdade isso tem que ver com todos os aspectos da vida. Deus é o Criador de todas as coisas. Ele fez tudo para proclamar o Seu poder e a Sua glória. Nós adoramos a Deus como o Criador do universo, e é nosso dever honrá-Lo em todo tempo, em todos os lugares, e em tudo que fizermos. Todas as coisas pertencem a Deus. O homem pertence a Deus. Nada, por menor que seja, pode ser tirado do Seu império e domínio.

Como isso influencia? Podemos constatar que na sociedade moderna não há mais lugar para Deus na vida pública. É requerida muita coragem, em nossos dias, para se confessar que Deus é Deus, e que Ele é aquele que reina supremo sobre o mundo e seus habitantes. Assim, quem professa a Fé Reformada tem o senhorio de Cristo na vida familiar, social, estudantil, trabalhista, etc; e está comprometido com Deus. Isso é um fator determinante no seu comportamento e no papel que desempenha na sociedade.

II - A SINGULARIDADE DA FÉ REFORMADA

Primeiro: Só a Fé Reformada pode, de modo coerente, sustentar a soberania absoluta do Senhor. Talvez alguém possa objetar que a Fé Reformada é dualista, porque mantém a tensão entre Deus e o homem. Mas é exatamente essa tensão que explica que a Fé Reformada não é dualista. As duas partes, Deus e o homem, não estão no mesmo nível. Deus é Criador, e o homem é Sua criatura.

Assim, de modo coerente, posiciona-se a Fé Reformada: Porque crê que Deus é verdadeiramente Deus, crê, também, que só a Palavra de Deus é regra de fé e prática; por conseguinte, vê o homem como a Bíblia diz que ele é: uma criatura de valor, feita à imagem e semelhança de Deus, vice-gerente de Deus na terra, responsável pela administração das obras das mãos de Deus, contudo caído e morto em pecado, incapaz até mesmo de desejar o bem.

Segundo: Por isso, a Fé Reformada é oposta a tudo que é contrário aos ensinamentos das Escrituras Sagradas. Ela rejeita a hierarquia Católico-romana, rejeita o luteranismo, e condena o arminianismo.

A Fé Reformada tem aspectos que lhe são peculiares, únicos. A história nos ensina isso e a situação atual justifica. A Fé Reformada tem deixado a sua marca nas grandes nações do mundo. As terras da Alemanha e Escandinávia são luteranas. Há grandes igrejas luteranas. Contudo essa é uma religião ligada a um povo. Mesmo no Brasil, as igrejas luteranas estão praticamente restritas às regiões Sul e Sudeste, onde estão grandes colônias alemãs. E ainda assim, não há qualquer influência benéfica para o povo em geral. A Igreja Luterana é como se fosse uma embaixada alemã, um território alemão.

A Igreja Católica Romana também não tem influência na vida cotidiana de seus adeptos, não há disciplina e nem acompanhamento. Além disso, ela não possui energia independente de seus sacerdotes. Sacerdotes estes que possuem uma formação mas acentuada em Filosofia do que em Teologia propriamente falando. Enfim, sem o Papa não haveria a Igreja Católica Romana. Isso mostra que ela também está ligada de modo vital a um homem de uma região geográfica, e pode ser vista como uma embaixada de Roma em cada país.

Já a Igreja Reformada é um sistema religioso que contém todos os ingredientes necessários em si mesma. Seus ensinos requerem uma postura ética correta perante a família e a sociedade; e um comportamento digno do nome que a Palavra de Deus nos outorga. Em cada país a Igreja possui sua própria identidade e independência. Isso é visto em todo o mundo e pode ser constatado pela escolha que cada uma faz no uso dos símbolos de fé: A Confissão de Westminster, os Cânones de Dorth, a Confissão Helvética, o Catecismo de Heidelberg e outros. Contudo, quaisquer que sejam os símbolos adotados, as igrejas reformadas se mantêm seguras no imutável princípio de que a Palavra de Deus é a única regra de fé e prática.

III - O LUGAR DA PALAVRA DE DEUS NA FÉ REFORMADA

Do ensino de que Deus é Deus, e de que o homem é aquilo que Deus diz que ele é, depreende-se que devemos respeitar e amar a Palavra de Deus como sendo o próprio Deus. E deve ser dito, em honra da Fé Reformada, que ela é fiel à Palavra de Deus. No século XIX, com a influência aristotélica, surgiu a crítica à Bíblia. Homens, escudados na tese filosófica de que o homem julga todas as coisas, se colocaram acima da Bíblia para criticá-la; e o sucesso deles foi aparentemente enorme. Também por isso é necessário reafirmar o conceito de que é um erro dizer que um homem não pode tornar-se teólogo sem Aristóteles. A verdade é que não pode tornar-se teólogo sem se livrar de Aristóteles. Em resumo, comparando com o estudo da Teologia, o todo de Aristóteles é como a escuridão para a luz. (cf. Teologia dos Reformadores p. 59 - Timothy George).

Também neste aspecto, deve-se notar a diferença na atitudes do luteranismo, romanismo e da Fé Reformada. Os luteranos mostraram bem pouca resistência às novas idéias. O romanismo convive com toda espécie de conceitos filosóficos, humanistas e liberais. Somente a Fé Reformada posicionou-se a favor da inerrância, da inspiração verbal das Escrituras, e de todas as conseqüências decorrentes desse ponto de vista. Uma teoria bem conhecida sustenta que a Bíblia tem autoridade somente na esfera religiosa e ética. Outros dizem que a Bíblia tem autoridade sobre o homem na medida que ele aceita e crê nessa autoridade. Ainda outros dizem que ela é a Palavra de Deus somente quando fala ao nosso coração. A Fé Reformada rejeita todas essas teorias e confessa que a Bíblia é a Palavra de Deus e que é autoritativa em todas as esferas da vida. Todas as coisas escritas na Bíblia são verdadeiras porque são a Palavra de Deus.

Tudo isso tem suas conseqüências. A Igreja Reformada dá grande ênfase ao estudo cuidadoso das Escrituras. O próprio Calvino foi o maior exegeta do período da Reforma. A nossa fé não pode ter outro fundamento que não seja o da Palavra de Deus. As experiências e as boas intenções humanas não substituem a revelação especial de Deus. A Igreja Romana possui salas e mais salas onde estão registrados os “milagres” operados pelos seus santos, nem por isso somos Romanos! Os espíritas dizem fazer curas, cirurgias miraculosas; e se caracterizam pela prática de “boas obras”; mas isso também não nos leva a ser espíritas! O budismo possui as suas virtudes; mas também não somos budistas! Poderíamos falar muito sobre os tantos conceitos humanos, mas considerem: Se fôssemos seguir experiências e boas intenções, o que seríamos? Romanos, espíritas, budistas, ou o quê? Todos têm boas intenções, mas não seguem a Bíblia. Doutrina não se baseia, pois, em sentimento ou experiência, e nem mesmo em boas intenções. Doutrina baseia-se única e exclusivamente na imutável Palavra de Deus. Não cremos, hoje, em revelações fora da Bíblia e, por isso, não somos pentecostais ou liberais; somos Reformados.

CONCLUSÃO

Tudo isso nos leva à constatação de que o Senhor reina, de que a Sua Palavra é a nossa lei. Queremos, portanto, concluir nossas considerações com este grandioso ensino da Palavra de Deus: O Senhor reina!

Todo ser pensante pode ver facilmente que um poder soberano rege sua vida. Ninguém jamais foi questionado se desejava nascer ou não; ou quando, ou onde, ou de quem haveria de nascer; se branco ou preto; se no século vinte ou antes do dilúvio; se na América ou na China. Os crentes de todas as épocas têm reconhecido que Deus é o Criador e o Rei do universo, e portanto, nada pode acontecer fora de Sua vontade real. Deus efetivamente governa o mundo que criou. E até as obras pecaminosas do homem ocorrem somente porque Ele as permite. Se negarmos esta realidade estaremos negando o fato de que Ele reina. Se a palavra de um rei terreno é lei em sua nação, quanto mais a vontade de Deus, no mundo que Ele criou!

Contudo, isto não significa que Ele tenha poder para fazer aquilo que é contrário a Sua natureza, ou para agir de forma contraditória. É impossível que Deus minta ou faça algo moralmente errado. Como Sua onipotência é a garantia segura de que o curso do mundo está conforme o Seu plano, a Sua santidade é a garantia de que todas as Suas obras serão feitas em retidão.

Tudo, sem exceção, está sob Seu controle, e Sua vontade é a razão fundamental de tudo o que acontece. O céu e a terra e tudo que neles há são os instrumentos através dos quais Ele leva a cabo Seus propósitos. A natureza, as nações, e a fortuna de cada ser humano representam, em todas as suas variações, a fiel expressão do propósito de Deus. Os ventos são Seus mensageiros, as chamas de fogo Seus ministros. Cada acontecimento natural é obra Sua; a prosperidade é um dom de Deus; e se a desgraça chega à vida do homem, foi o Senhor quem a permitiu (Am 3:5, 6 Lm 3:33-38, Is 47:7; Ec 7:14; Is 54:16). Ele dirige os passos dos homens, queiram estes ou não; Ele enaltece e Ele abate; Ele abranda o coração e Ele o endurece; e Ele cria os próprios pensamentos e intenções da alma (Fl 2:13).

Embora o reinado de Deus seja universal e absoluto, não é um poder cego. Pelo contrário, Seu reinado está unido à Sua infinita sabedoria, santidade e amor. E esta doutrina, quando compreendida, nos traz grande consolo e segurança. Quem não preferiria que todos os aspectos de sua vida estivessem nas mãos de um Deus de infinito poder, sabedoria e amor; e não que dependessem do acaso cego ou das próprias pessoas pervertidas? Ninguém é mais habilitado que Deus para dirigir a minha vida, e, por isso, glória seja dada ao Seu nome.

A própria expressão “servo de Deus”, que caracteriza cada um de nós, traz implícita a idéia de que Ele Reina.

Portanto, louvado seja Deus que aprouve fazer uso dos homens tornando-os Reformadores para lutar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jd 1:3).

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Via: Bereianos.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Conversão ou Coerção.

Uma verdade fundamental da Bíblia é que a natureza do homem pode ser transformada apenas sobrenaturalmente. (Por “natureza”, quero dizer natureza ética, na esfera do certo e errado, não natureza metafísica, na esfera de sua constituição como um homem criado à imagem de Deus.) A Bíblia nega de forma absoluta que a natureza do homem possa ser transformada por meios puramente naturais (João 1.12-13; 1Co 2.14). Os homens são convertidos (transformados eticamente) pela regeneração. Na regeneração, o Espírito Santo implanta no homem a disposição santa perdida na Queda, na qual todos os homens nascem (2Co 5.17). Essa é a única forma pela qual a natureza do homem pode ser transformada. Se o homem há de ser transformado eticamente, ele deve ser convertido.

Quando os homens perdem a esperança na Bíblia, eles devem encontrar outras formas de tentar mudar a natureza do homem. A forma mais frequente é por meio da coersão. O exemplo mais consistente disso está nos estados comunistas modernos. Eles creem que ao expor o homem a certo estímulo externo, a sua natureza interna pode ser alterada. Ao martelar nele, por meio de propaganda, a ideia que a motivação por lucro é má para os indivíduos (embora, aparentemente, não para o Estado), eles esperam criar um Novo Homem que trabalhará para o bem da comunidade e do Estado, e não para si mesmo e sua família. Se os homens se opõem e questionam esse Estatismo, eles devem ser remodelados em campos de concentração infernais ao ser violentamente quebrados física, emocional e psicologicamente, e então remendados novamente para serem bons cidadãos estatais. Essa é uma suposição razoável para qualquer um que tenha abandonado a esperança na obra miraculosa da regeneração. Marque isso: qualquer Estado, igreja, família ou outra autoridade institucional que opte por coerção como um meio para alterar a natureza do homem abandonou a esperança no Deus da Bíblia. Isso aplica-se tanto aos estatais materialistas como também aos legalistas fundamentalistas.

A Bíblia permite a coerção somente em uns poucos e limitados casos. O Estado pode empregar a espada (Rm 13.1-7) para proteger a vida, liberdade e propriedade. (Por implicação, o Estado pode usar a coerção para proteger seus cidadãos de invasão estrangeira.) O indivíduo pode usar coerção para proteger a vida e a propriedade (Ex 22.1-2). Pais piedosos podem empregar punição corporal limitada para regular o comportamento externo dos filhos (Pv 23.13-14). Nada disso tem a intenção de alterar a natureza do homem. Multa e restituição não transformam a natureza de um ladrão, assim como uma palmada não muda a natureza de uma criança. A coerção pode proteger, no máximo, a ordem externa; ela não pode alterar a natureza do homem. Somente o Espírito de Deus pode alterar a natureza de um homem.

Não é sem motivo que o evangelho de Jesus Cristo é chamado o “evangelho da paz” (Rm 10.15; Ef 6.15). Ele cria paz com Deus, paz com o indivíduo, e paz entre o indivíduo e seus semelhantes. O aumento da coerção e da violência na família, escola, mídia e no Estado é uma marca de uma cultura ímpia e réproba. Quando os homens são convertidos, apenas um mínimo de coerção é necessária para manter seus impulsos pecaminosos em cheque. A solução para o pecado e apostasia generalizada não é coerção generalizada, mas sim conversão generalizada.


Fonte: Chalcedon Report.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Cobertura Espiritual, isso é bíblico? - Thomas Magnum.

A cada dia o sincretismo religioso no meio evangélico fica mais absurdo e assustador. Porque muitas vezes o indivíduo não sabe onde está entrando, se num templo evangélico ou num centro espírita ou ainda num sei lá o que, que tem a palavra gospel no meio. Uma das mais novas modinhas doutrinárias das igrejas neopentecostais é a cobertura espiritual. Ou poderíamos chamar também como personal prophet. O crente agora tem um guru que vai guiar suas decisões e escolhas na vida, e nisso temos as mais absurdas colocações a ponto até de interferir na vida conjugal de um casal. Essa prática tem crescido muito em solo brasileiro, e vemos muitos grupos antes históricos no meio evangélico agora abraçarem cegamente o movimento da cobertura espiritual.

Interessante ressaltar uma semelhança indissociável com os espíritos guias do espiritismo. O fiel vai comprar um carro, tem que perguntar ao seu líder, vai namorar, tem que ter autorização de seu líder, vai sair pra jantar com a esposa, tem que ter a aprovação de seu líder. E aí vemos um desenvolvimento herético de um tipo de cativeiro da vontade, exercido por parte de muitos líderes desses grupos que geralmente se subdividem em pequenos grupos ou células, como forma estratégica para manterem os membros sob o controle do líder maior.

Um dia desses conversando com um rapaz de uma dessas igrejas, me pediu uma indicação de um bom livro teológico, ao lhe indicar, ele me disse que não podia ler aquele autor ou autores que não fossem Kenneth Hagin, Benny Hinn, T.L. Osborn, Rebecca Brown ou John Bevere que é o mais novo no ranking. Ou seja o rapaz foi proibido de ler algumas coisas que confrontem os ensinos de tais profetas do erro.

Ao conviver com pessoas que saíram de grupos neopentecostais pela graça de Deus, pude constatar de perto, tais pessoas serem amaldiçoadas por seus antigos líderes, ficarem isoladas e abandonadas por antigos amigos que ainda pertencem ao grupo. Ao sair de tais grupos existe realmente um impacto psicológico e emocional, que é uma característica de seitas heréticas, que excluem e desprezam e muitas vezes perseguem antigos membros do grupo, causando um dano emocional reparado somente pela misericórdia e graça de Deus.

O controle mental impulsona tais pessoas a fazerem e viverem dessa forma, em conformidade com esse evangelho malfazejo e maldito (Gálatas 1.8). Devemos avaliar qualquer ensino religioso com a palavra de Deus, vejamos:

- A Bíblia diz que o Espirito Santo é nosso guia. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. João 16:13

- Nos diz que o próprio Deus guia seu povo. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho. Salmos 25:9

- Que os filhos de Deus tem o Espírito de Deus. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus. Romanos 8:14

- Que a palavra de Deus deve ser nosso guia. Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros. Salmos 119:24

É claro que não há pecado algum em sermos aconselhados, porque a Bíblia nos recomenda isso. Mas, vejamos uma advertência Bíblica sobre o domínio do povo de Deus:

"Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho." I Pedro 5:2-3.

Temos realmente um crescimento de uma terapia espiritual multifacetada por idiotices e ridicularizações do intelecto humano. Deus nos dotou de racionalidade para julgarmos nossas decisões e exercermos senso crítico em nosso andar diário. Devido a essa idiotização coletiva vivemos nessa neurose religiosa que está muito distante da santa palavra de Deus.

O líder cristão deve ser usado por Deus para instruir seu povo em amor e exemplo, não por domínio. Voltemos ao Evangelho Cristocêntrico, mas uma vez o movimento neopentecostal descentraliza Cristo e exalta uma religião humana, antropocêntrica, egocêntrica, hedonista e sincrética. Que Deus nos guarde e nos ajude a propagarmos o verdadeiro e puro evangelho de Cristo.

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Via: Bereianos 

1 João 2:2 - A redenção de Jesus é universal? - A.W. Pink.


“E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.

Esta é uma passagem, mais do que qualquer outra, a qual é apelada por aqueles que crêem em uma redenção universal, e que à primeira vista parece ensinar que Cristo morreu por toda a raça humana. Decidimos, então, dar a esta passagem uma detalhada examinação e exposição.

E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:2). Esta é uma passagem que, aparentemente, muito favorece a visão Arminiana da Expiação; todavia, se ela for considerada atentamente, será visto que isto é somente na aparência, e não na realidade. Abaixo, ofereceremos um número de provas conclusivas para mostrar que este verso não ensina que Cristo propiciou a Deus em favor de todos os pecados de todos os homens.

Em primeiro lugar, o fato deste verso começar com “e” necessariamente liga-o com o que vem antes. Nós, portanto, daremos uma tradução literal de palavra por palavra de 1 João 2:1 das entrelinhas de Bagster: “Filhinhos meus, estas coisas eu escrevo para vocês, para que vocês possam não pecar; e se alguém pecar, um Paracleto temos para com o Pai, Jesus Cristo (o) justo”. Poderá ser dessa forma visto que o apóstolo João está aqui escrevendo para e sobre os santos de Deus. Seu propósito imediato era duplo: primeiro, para comunicar uma mensagem que guardasse os filhos de Deus de pecar; segundo, suprir conforto e segurança para aqueles que pudessem pecar, e, em conseqüência, ficarem desanimados e atemorizados de forma que o assunto poderia se mostrar fatal. Ele, então, lhes faz conhecido a provisão que Deus tem feito para justamente uma tal emergência. Isto encontramos no final do verso 1 e por todo o verso 2. O fundamento do conforto é duplo: que o abatido e arrependido crente (1 João 1:9) esteja seguro que, primeiro, ele tem um “Advogado para com o Pai”; segundo, que este Advogado é “a propiciação pelos nossos pecados”. Ora, somente os crentes podem tomar conforto disto, porque somente eles têm um “Advogado”, porque somente para eles é Cristo a propiciação, como é provado pela união de Propiciação (“e”) com o “Advogado”!

Em segundo lugar, se outras passagens no Novo Testamento que falam de “propiciação”, forem comparadas com 1 João 2:2, será descoberto que ela é estritamente limitada em seu escopo. Por exemplo, em Romanos 3:25 nós lemos que Deus apresentou Cristo “como propiciação pela fé em Seu sangue”. Se Cristo é uma propiciação “pela fé”, então Ele não é uma “propiciação” para aqueles que não têm fé! Novamente, em Hebreus 2:17 lemos, “Para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2:17, R.V.).

Em terceiro lugar, quem se tem em vista quando João diz, “Ele é a propiciação pelos nossos pecados”? Nós respondemos, os crentes Judeus. E uma parte da prova sobre a qual baseamos esta afirmação nós agora submetemos à cuidadosa atenção do leitor.

Em Gálatas 2:9 somos informados que João, junto com Tiago e Cefas, eram apóstolos “para a circuncisão” (isto é, Israel). Em harmonia com isto, a Epístola de Tiago é endereçada às “doze tribos, que estão dispersas entre as nações” (1:1). Então, a primeira Epístola de Pedro é endereçada aos “eleitos que são peregrinos da Dispersão” (1 Pedro 1:1, R.V.). E João também está escrevendo para Israelitas salvos, mas para Judeus salvos e Gentios salvos.

Algumas evidências de que João está escrevendo para Judeus salvos são as seguintes.

(a) Na abertura do versículo ele diz de Cristo, “O que nós vimos com nossos olhos....e nossas mãos apalparam”. Quão impossível seria para o Apóstolo Paulo ter começado qualquer uma de suas epístolas aos santos Gentios com tal linguagem!

(b) “Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas um mandamento antigo, que tendes desde o princípio” (1 João 2:7). O “princípio” aqui se refere ao começo da manifestação pública de Cristo - em prova compare 1:1; 2:13, etc. Ora, esses crentes, o apóstolo nos conta, tinham o “mandamento antigo” desde o princípio. Isto foi verdadeiro a respeito dos crentes Judeus, mas não foi verdadeiro sobre os crentes Gentios.

(c) “Pais, eu vos escrevo, porque vós tendes conhecido aquele que é desde o princípio” (2:13). Aqui, novamente, é evidente que são os crentes Judeus que estão em vista.

(d) “Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme vós tendes ouvido que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos” (2:18, 19). Esses irmãos para quem João escreveu, tinham “ouvido” do Próprio Cristo que o Anticristo viria (veja Mateus 24). Os “muitos anticristos” sobre quem João declara “ter saído dentre nós” foram todos Judeus, porque durante o primeiro século ninguém senão um Judeu poderia passar-se pelo Messias. Então, quando João diz: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados” ele somente poderia querer dizer pelos pecados dos crentes Judeus. [1]

Em quarto lugar, quando João adiciona, “E não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”, ele anuncia que Cristo foi a propiciação pelos pecados dos crentes Gentios também, porque, como previamente mostrado, “o mundo” é um termo contrastado com Israel. Esta interpretação é inequivocadamente estabelecida por uma cuidadosa comparação de 1 João 2:2 com João 11:51,52, que é uma passagem estritamente paralela: “Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”. Aqui Caifás, sob inspiração, faz conhecido por quem Jesus “morreria”. Observe agora a correspondência desta profecia com esta declaração de João:

1 João 2:2
João 11:51, 52
“Ele é a propiciação pelos nossos (os crentes israelitas) pecados”.
“Ele profetizou que Jesus havia de morrer pela nação”.
“E não somente pelos nossos”.
“E não somente pela nação”.
“Mas também pelos de todos mundo” — Isto é, os crentes Gentios espalhados por toda a terra.
“Mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”.

Em quinto lugar, a interpretação acima é confirmada pelo fato que nenhuma outra é consistente ou inteligível. Se o “de todo o mundo” significa toda a raça humana, então a primeira cláusula e o “também” na segunda cláusula são absolutamente sem significado. Se Cristo é a propiciação por cada pessoa, seria uma tautologia ociosa dizer, primeiro, “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e também pelos de cada pessoa”. Não poderia haver “também” se Ele é a propiciação por toda a família humana. Tivesse o apóstolo o intuito de afirmar que Cristo é a propiciação universal, ele teria omitido a primeira cláusula do verso 2, e simplesmente dito, “Ele é a propiciação pelos pecados de todo o mundo”. Confirmatório de “não pelos nossos (crentes Judeus) somente, mas também pelos de todo o mundo” - crentes Gentios, também; compare João 10:16; 17:20.

Em sexto lugar, nossa definição de “mundo inteiro” está de perfeito acordo com outras passagens no Novo Testamento. Por exemplo: “Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que já chegou a vós, como também está em todo o mundo” (Colossenses 1:5,6). Significa aqui “todo o mundo”, absolutamente e sem limitação, toda humanidade? Todas as famílias humanas tinham ouvido o Evangelho? Não; o significado do apóstolo é que, o Evangelho, no lugar de ser confinado à terra da Judeia, tinha se espalhado, sem restrição, para terras Gentílicas. Assim em Romanos 1:8: “Primeiramente dou graças ao meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé”. O apóstolo está aqui se referindo à fé daqueles santos Romanos sendo anunciada em uma forma de recomendação. Mas certamente toda humanidade não tinha ouvido da fé deles! Era a todo o mundo dos crentes que ele estava se referindo! Em Apocalipse 12:9 lemos de Satanás, o qual “engana todo o mundo”. Mas novamente a expressão não pode ser entendida como uma expressão universal, porque Mateus 24:34 nos diz que Satanás não pode “enganar” os eleitos de Deus. Aqui “todo o mundo” é o mundo dos descrentes.

Em sétimo lugar, insistir que “todo o mundo” em 1 João 2:2 significa toda a raça humana é minar os próprios fundamentos de nossa fé. Se Cristo é a propiciação para aqueles que estão perdidos igualmente como para aqueles que estão salvos, então que segurança temos que os crentes também não possam se perder? Se Cristo é a propiciação para aqueles que agora estão no inferno, que garantia terei que eu não possa terminar no inferno? O sangue derramado do Filho encarnado de Deus é a única coisa que pode livrar qualquer um do inferno, e se muitos daqueles por quem este precioso sangue fez propiciação estão agora no terrível lugar da condenação, então aquele sangue se mostrou ineficaz para mim! Fora com um pensamento tão desonroso a Deus!

Embora os homens possam fugir e perverter as Escrituras, uma coisa é certa: A Expiação não falhou. Deus não permitirá que o precioso e caro sacrifício falhe no cumprimento, completamente, para o qual foi designado efetuar. Nem uma gota do santo sangue foi derramado em vão. No último grande Dia não haverá um Salvador desapontado e derrotado, mas Um que “verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito” (Isaías 53:11). Não são nossas palavras, mas a infalível asserção dEle que declara: “O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade” (Isaías 46:10). Sobre esta impregnável rocha nós descansamos. Que outros descansem nas areias da especulação humana e da teorização do século 20 se eles quiserem. Isto é assunto deles. Mas a Deus eles terão de prestar contas. De nossa parte preferimos ser chamados de mentes limitadas, fora de moda, hyper-Calvinista, do que sermos encontrados repudiando a verdade de Deus e reduzindo a eficácia Divina da expiação para uma mera ficção.

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A.W. Pink
Fonte: monergismo.com

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domingo, 9 de março de 2014

UMA DEFESA AO CALVINISMO - C.H. Spurgeon.


É uma grande coisa já começar a vida Cristã crendo em boa e sólida doutrina. Algumas pessoas têm recebido vinte diferentes "evangelhos" neste mesmo número de anos; e quantos mais irão aceitar antes que sua jornada termine é difícil de dizer. Dou graças a Deus por Ele logo cedo ter me ensinado o evangelho, e tenho estado tão perfeitamente satisfeito com ele, que não quero conhecer nenhum outro.

Porque, se eu cresse no que alguns pregam sobre uma salvação temporária, e sem importância, que somente dura por um tempo, eu raramente seria grato por ela, se é que seria; mas quando sei que aqueles que Deus salva, Ele os salva com uma salvação eterna, quando sei que Ele lhes dá uma justiça eterna, quando eu sei que Ele os assenta em uma fundação eterna de amor eterno, e que Ele os trará ao Seu reino eterno, oh, então me admiro, e me surpreendo pelo fato de uma bênção tal como esta tenha, em algum momento, sido dada a mim!

Suponho que haja algumas pessoas cujas mentes naturalmente se inclinam em direção à doutrina do livre-arbítrio. Eu posso somente dizer que a minha se inclina naturalmente em direção à doutrina da graça soberana. Algumas vezes, quando vejo algumas das piores personalidades na rua, eu sinto como se meu coração devesse jorrar em lágrimas de gratidão, porque se Deus me tivesse deixado só e não me tivesse tocado por Sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu teria ido aos extremos do pecado, mergulhado nas maiores profundezas do mal, também não teria reprimido qualquer vício ou loucura se Deus não me tivesse restringido. Eu sinto que eu teria sido o próprio rei dos pecadores, se Deus me tivesse deixado só.

Eu não consigo entender a razão pela qual sou salvo, exceto sobre a base de que Deus queria que isto fosse assim. Eu não posso, se olhar sinceramente, descobrir qualquer tipo de razão em mim mesmo pela qual eu deva ser um participante da graça Divina. Se não estou neste momento sem Cristo, é somente porque Cristo Jesus tem Sua vontade para comigo, e que esta vontade é que eu deveria estar com Ele onde Ele estiver, e que deveria partilhar da Sua glória. Não posso por a coroa em nenhum outro lugar exceto sobre a cabeça Daquele cuja poderosa graça tem me salvado de seguir abaixo para o abismo. Foi Ele que transformou meu coração, e me colocou de joelhos diante de Si.

Posso bem me lembrar da maneira pela qual eu aprendi as doutrinas da graça em um único instante. Nascido, como todos nós somos por natureza, um arminiano, ainda cria nas velhas coisas que tinha ouvido continuamente do púlpito, e não via a graça de Deus. Quando estava vindo a Cristo, pensei estar fazendo aquilo tudo por mim mesmo, e ainda que buscasse o Senhor sinceramente, não tinha idéia de que o Senhor estava me buscando. Não penso que o novo convertido esteja, a princípio, consciente disto. Eu posso relembrar o dia e a hora exatos em que pela primeira vez recebi aquelas verdades em minha própria alma, quando elas foram, como diz John Bunyan, gravadas em meu coração como com um ferro em brasa; e eu posso recompor como me senti quando cresci repentinamente de um bebê para um homem que havia feito progressos no conhecimento das Escrituras, por ter encontrado, de uma vez por todas, a chave para a verdade de Deus.

Em uma noite de um dia de semana, quando estava sentado na casa de Deus, não estava pensando muito sobre o sermão do pregador, porque não cria nele. Um pensamento me tocou: "Como você veio a ser um Cristão?" Eu vi o Senhor. "Mas como você veio a buscar o Senhor?" A verdade lampejou por minha mente em um momento, eu não poderia tê-lo buscado a menos que tivesse havido alguma influência prévia em minha mente para me fazer buscá-Lo. Eu orei, pensei eu, mas quando perguntei a mim mesmo, como eu vim a orar? Fui induzido a orar pela leitura das Escrituras. Como eu vim a ler as Escrituras? Eu as havia lido, mas o que me levou a assim proceder? Então em um instante, eu vi que Deus estava na base disto tudo, e que Ele foi o Autor da minha fé, e assim toda a doutrina da graça se tornou acessível a mim, e desta doutrina eu não me afastei até hoje, e desejo fazer desta, a minha confissão perpétua: "Eu atribuo minha conversão inteiramente a Deus".

Certa vez compareci a um culto aonde o texto veio a ser: "[Ele] escolherá para nós a nossa herança"1 e o bom homem que ocupou o púlpito era mais do que apenas um pouco arminiano. Por esta razão, quando começou, ele disse: "Esta passagem se refere inteiramente à nossa herança temporal, não tem nada a ver com nosso destino eterno, porque", disse ele, "nós não queremos que Cristo faça por nós a escolha do Céu ou do inferno. Isto é tão claro e direto, que cada homem que tenha um grão de senso comum irá escolher o Céu, e nenhuma pessoa será tão desajuizada que escolha o inferno. Não temos qualquer necessidade de alguma inteligência superior, ou de qualquer grande Ser, para escolher Céu ou inferno por nós. Isto é deixado para o nosso próprio livre-arbítrio, e temos bastante sabedoria dando-nos meios suficientemente corretos para julgar por nós mesmos," e, portanto, como ele muito logicamente inferiu, não há necessidade de Jesus Cristo, ou de qualquer outro, fazer a escolha por nós. Nós podemos escolher a herança por nós mesmos sem qualquer assistência. "Ah!" eu pensei, "mas, meu bom irmão, pode ser mesmo verdade que nós podemos, mas penso que precisamos querer algo mais que o senso comum antes que possamos escolher corretamente".

Primeiro, deixe-me perguntar, não devemos todos nós admitir uma soberana Providência, e a designação da mão do SENHOR, como os meios através dos quais nós viemos a este mundo? Aqueles homens que pensam que, depois de tudo, nós somos deixados ao nosso próprio livre-arbítrio para escolher este ou aquele para direcionar os nossos passos, deve admitir que nossa entrada neste mundo não aconteceu por nossa própria vontade, mas que Deus teve, naquela hora, que escolher por nós. Que circunstâncias foram aquelas, sob de nosso controle, que nos direcionaram a eleger certas pessoas como sendo nossos pais? Tivemos nós alguma coisa a ver com isto? Não foi o próprio Deus que determinou nossos pais, nosso local de nascimento, e amigos?

John Newton costumava contar uma parábola sobre uma boa mulher que, de modo a provar a doutrina da eleição, dizia: "Ah! meu caro, o Senhor deve ter me amado antes de eu nascer, ou caso contrário Ele não teria visto nada em mim para amar depois". Estou certo que é verdade no meu caso; Eu creio na doutrina da eleição, porque estou bem certo que, se Deus não me tivesse escolhido, eu nunca O teria escolhido; e tenho certeza que Ele me escolheu antes de eu nascer, ou caso contrário Ele nunca teria me escolhido depois; e Ele deve ter me eleito por razões desconhecidas por mim, porque eu nunca pude encontrar qualquer razão em mim mesmo pela qual Ele devesse me olhar com especial amor.

Se seria admirável ver um rio brotar da terra já crescido, tanto mais seria olhar pasmado para uma vasta fonte da qual todos os rios da terra saíssem borbulhando de uma só vez; um milhão deles nascendo em um só nascimento? Que visão haveria de ser! Quem pode concebê-la. E ainda assim o amor de Deus é aquela fonte, formando cada um dos rios de misericórdia, os quais têm sempre satisfeito nosso povo com todos os rios de graça durante o tempo, e de glória depois de subirem. Minh'alma, permaneça naquele manancial sagrado, e adore e exalte para todo o sempre a Deus, nosso Pai, que tem nos amado! Bem no início, quando este grande universo estava na mente de Deus, como florestas não nascidas na semente do carvalho; muito antes que os ecos acordassem os ermos; antes que as montanhas fossem geradas; e muito antes que a luz rompesse pelo céu, Deus amou estas criaturas escolhidas. Antes que houvesse qualquer ser criado, quando o éter ainda não havia sido agitado pelas asas do anjos, quando o próprio espaço ainda não tinha existência, quando não havia nada exceto Deus somente, mesmo então, naquela solidão de Deidade, e naquela penetrante quietude e profundidade, Seu coração se moveu com amor por seus escolhidos. Seus nomes estavam escritos em Seu coração, e então eram eles queridos de Sua alma. Jesus amou Seu povo antes da fundação do mundo, mesmo da eternidade! E quando Ele me chamou por Sua graça, me disse: "Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí".

Se qualquer um me perguntasse o que eu entendo por um Calvinista, eu responderia: "Ele é alguém que diz: Salvação do Senhor". Eu não consigo encontrar nas Escrituras nenhuma outra doutrina além desta. É a essência da Bíblia. "Só ele é a minha rocha e a minha salvação". Me diga qualquer coisa contrária a esta verdade, e será uma heresia; diga-me uma heresia, e eu acharei sua essência aqui: que ela se afastou desta grande, desta fundamental, desta firme verdade, "Deus é minha rocha e minha salvação".

Qual é a heresia de Roma, além da adição de algo aos perfeitos méritos de Jesus Cristo, o acréscimo de obras da carne, para auxiliar em nossa justificação? E qual é a heresia do arminianismo além de adicionar algo à obra do Redentor? Cada heresia, se trazida à pedra de toque, irá se descobrir aqui.

Eu tenho minha própria opinião particular de que não há tal coisa como pregar Cristo e Ele crucificado, a menos que nós preguemos que nos dias de hoje isto é chamado de Calvinismo. É um apelido chamar a isto de Calvinismo; O CALVINISMO É O EVANGELHO, E NADA MAIS. Eu não creio que podemos pregar o evangelho, se não pregarmos a justificação pela fé, sem obras; nem sem pregarmos a soberania de Deus e Sua dispensação de graça; nem sem exaltarmos a eleição, pelo inalterável, eterno, imutável, conquistador amor do SENHOR; nem penso que podemos pregar o evangelho, a menos que o baseemos sobre a especial e particular redenção de Seu povo eleito e escolhido o qual Cristo formou sobre a cruz; nem posso eu compreender um evangelho que deixa santos decaírem após serem chamados, e sujeitar os filhos de Deus a serem queimados no fogo da condenação após terem uma vez crido em Jesus. Tal evangelho eu abomino.

Não há alma viva que defenda mais firmemente as doutrinas da graça que eu, e se algum homem me pergunta se porventura me envergonho de ser chamado Calvinista, respondo que eu não quero ser chamado de nada além de Cristão; mas se você me perguntar, eu defendo a visão doutrinária que foi defendida por João Calvino, eu replico, estou no centro de sua defesa, e estou feliz por professá-la.

Mas, longe de mim, sequer imaginar que Sião não contém nada além de Cristãos Calvinistas dentro de seus muros, ou que não há ninguém salvo que não defenda nossa visão. Creio que há multidões de homens que não conseguem ver estas verdades, ou, pelo menos, não conseguem vê-las do modo em que nós as colocamos, mas que não obstante, têm recebido a Cristo como seu Salvador, e são tão queridos do coração do Deus de graça como o mais ruidoso Calvinista dentro ou fora do Céu.

Frequentemente é dito que estas doutrinas nas quais nós cremos têm uma tendência de nos levar ao pecado. Eu tenho ouvido isto ser declarado muito positivamente: que aquelas grandes doutrinas que amamos, e que encontramos nas Escrituras, são licenciosas. Não sei quem terá a audácia de fazer esta afirmação, quando considerar que os mais santos dentre os homens têm crido nelas. Pergunto ao homem que se atreve a dizer que o Calvinismo é uma religião licenciosa, o que ele pensa do caráter de Agostinho, ou de Calvino, ou de Whitefield, que em sucessivas eras foram grandes expoentes do sistema da graça; ou o que diria dos Puritanos, cujas obras estão cheias delas? Se um homem tivesse sido um Arminiano naqueles dias, teria sido considerado o mais vil herege vivente, mas agora nós somos vistos como hereges, e eles como ortodoxos.

Nós temos retornado à velha escola; nós podemos traçar nossa linhagem desde os apóstolos. É aquele veio de livre-graça, correndo através da pregação de Batistas, os quais nos têm salvado como denominação. Não é por isto que nós não podemos permanecer onde estamos hoje. Nós podemos correr uma linha dourada até o próprio Jesus Cristo, através de uma santa sucessão de vigorosos pais, todos os quais defenderam estas gloriosas verdades; e podemos perguntar a seu respeito: "Onde você encontraria homens melhores e mais consagrados no mundo?". Nenhuma doutrina é tão planejada para preservar o homem do pecado quanto a doutrina da graça de Deus. Aqueles que a têm chamado de "doutrina licenciosa" não sabem nada a seu respeito. Coisas pobres da ignorância, eles mal souberam que seu próprio material ruim foi a mais licenciosa doutrina sob o céu. Se eles conhecessem a graça de Deus em verdade, eles logo iriam ver que não houve nada que preservasse mais da queda que o conhecimento de que somos eleitos de Deus desde a fundação do mundo. Não há nada como a crença na perseverança eterna, e na imutabilidade da afeição de meu Pai, que possa me manter mais perto Dele, pela simples razão da gratidão. Nada faz um homem mais virtuoso que a crença na verdade. Uma mentira doutrinária irá logo produzir uma prática mentirosa. Um homem não pode ter uma crença errada sem em algum momento futuro ter uma vida errônea. Eu creio que uma coisa naturalmente leva à outra.

De todos os homens, os que têm a mais desinteressada piedade, a mais sublime reverência, a mais ardente devoção, são aqueles que crêem que são salvos pela graça, sem obras, através da fé, e não de si mesmos, a qual é dom de Deus.

Os Cristãos devem ter cautela, e ver que isto sempre é assim, a fim de que por quaisquer meios Cristo não seja novamente crucificado, e exposto ao vitupério.
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1 Salmo 47:4
2 Jeremias 31:3
3 Salmo 62:6
4 Efésios 2:8-9
5 Hebreus 6:6


Charles Haddon Spurgeon.