quarta-feira, 14 de maio de 2014

A Fé Nega a Razão?

Diz-se que quem define os termos, vence o debate. Os céticos sabem disso e tiram vantagem. Observe uma das famosas definições de “fé” fornecidas por incrédulos. Mark Twain, por exemplo, brincou: “fé é crer no que você sabe que não é verdade”. Mais próximo aos nossos dias, o escritor ateu Sam Harris definiu fé como “a desculpa que pessoas religiosas dão a si mesmas para continuarem acreditando quando as razões falham”. Richard Dawkins, talvez o mais famoso ateu da nossa geração, afirma: “fé é o grande escape, a grande desculpa para fugir da necessidade de pensar e avaliar a evidência. Fé é a crença a despeito, ou até talvez por causa, da falta de evidência”.

A única coisa que todas essas definições têm em comum é a, explícita ou implícita, ideia de que a fé está em conflito com a razão. Infelizmente, alguns cristãos na história da igreja disseram coisas que deram suporte a essa visão de relação entre fé e razão. Martinho Lutero, por exemplo, fez declarações negativas muito pesadas sobre a razão, muitas das quais são citadas por céticos em suas tentativas de provar que o cristianismo é inerentemente irracional. Lutero chamou a razão de “a maior meretriz do Diabo”. Ele disse em diversos contextos diferentes que a razão deveria ser destruída. O contexto é crucial, porque nessas situações Lutero estava falando sobre a arbitrariedade da razão humana sozinha de discernir coisas divinas. Ainda assim, sua tendência à hipérbole passou a bola para os céticos.

A vasta maioria dos cristãos ao longo da história, todavia, não rejeitaram o correto uso da razão. Isso se sustenta pela tentativa deles de serem fiéis ao ensino da Escritura, que por si só fornece razões para crer. João escreveu seu evangelho inteiro para fornecer razões para crer que Jesus é o Cristo (João 20.30-31). João, Pedro e Paulo apelam à evidência para as afirmações que eles fazem (1 Co 15.5–6; 2 Pe 1.16; 1 Jo 1.1–4). Todos os seres humanos creem em certas coisas baseados no testemunho de outros. Os cristãos creem no que creem baseados no testemunho dos apóstolos. Tal fé é um dom, mas não é divorciada da razão.

Se vamos entender melhor o relacionamento entre fé e razão, devemos ter um entendimento mais claro sobre essas duas palavras. A palavra fé é usada de diversas maneiras diferentes pelos pensadores cristãos. Ela pode se referir às crenças que os cristãos têm em comum (a “fé cristã”). A palavra fé também pode se referir à nossa resposta a Deus e às promessas do evangelho. Isso é o que as Confissões Reformadas querem dizer quando falam de “fé salvífica” (por exemplo, CFW 14). Essa fé envolve conhecimento, concordância e confiança. Por último, muitos filósofos e teólogos falaram da fé como uma fonte de conhecimento. Como Caleb Miller explica: “As verdades da fé são aquelas que podem ser conhecidas ou justificadamente cridas por causa da revelação divina, e são justificadas por terem sido reveladas por Deus”.

A palavra razão também tem sido usada de maneiras diferentes. Ela pode se referir às nossas faculdades cognitivas humanas. A relação entre fé e razão nesse sentido envolve perguntar se as crenças cristãs são razoáveis. Em outras palavras, nós usamos apropriadamente as nossas faculdades cognitivas ao avaliar essas crenças? Nós também podemos usar razão para se referir a uma fonte de conhecimento. Em contraste com as “verdades da fé” conhecidas por revelação divina, as “verdades da razão”, nesse sentido, são verdades conhecidas através de faculdades naturais como percepção sensorial e memória. Um conflito entre conhecimento derivado de faculdades humanas naturais e conhecimento derivado da revelação divina só ocorre se uma aparente contradição surge. Finalmente, no sentido mais limitado, razão pode ser usada para se referir ao raciocínio lógico. Cristãos nunca devem argumentar que há um conflito aqui, porque essa faculdade é parte de quem somos como seres humanos criados à imagem de Deus.

A maior parte da discussão contemporânea sobre o suposto conflito entre fé e razão surgiu no contexto de discussões a respeito de ciência e religião. Limitações espaciais impedem uma discussão completa sobre essa questão, mas alguns pontos gerais devem ser avaliados para nos ajudar a entender como pensar sobre quaisquer supostos conflitos que venham surgir. Em primeiro lugar, devemos reconhecer com Agostinho, João Calvino e muitos outros que toda verdade é verdade de Deus. O que é verdade, é verdade porque Deus revelou, criou ou decretou.

ELE REVELOU: Tudo o que Deus revela, quer seja através da revelação geral na sua criação, ou através da revelação especial na Escritura, é necessariamente verdade. É impossível que Deus minta.

ELE CRIOU: Quando aprendemos algo a respeito da criação que corresponde com o que Deus criou de fato, nós aprendemos algo verdadeiro. Deus é a fonte dessas verdades em virtude do fato de ele ser o Criador.

ELE DECRETOU: Deus é aquele que decretou tudo o que vem a acontecer. Quando aprendemos algo sobre a história que está de acordo com o que de fato aconteceu, nós aprendemos algo de verdadeiro na medida em que o nosso conhecimento corresponde ao que realmente aconteceu, e o que de fato aconteceu, só aconteceu, em última análise, porque Deus decretou que acontecesse.

Um segundo ponto principal que deve ser analisado é o seguinte: se toda a verdade tem a sua fonte em Deus e toda a verdade é unificada, então uma coisa que sabemos por certo é que se há uma contradição entre uma interpretação da Escritura e uma interpretação do que Deus criou, então uma ou ambas as interpretações estão incorretas. Não podem ser ambas corretas. Cristãos devem reconhecer que o conflito pode ser devido a uma interpretação errada da criação, a uma interpretação errada da Escritura ou a uma interpretação errada de ambas. Isso significa que temos que fazer um meticuloso e cuidadoso exame tanto da teoria científica quanto da exegese bíblica para descobrir a fonte do conflito. Devemos nos certificar de que estamos lidando com o ensino verdadeiro da Escritura, em vez de uma interpretação equivocada da Escritura. E devemos examinar a evidência da teoria científica em questão para descobrir se estamos lidando com algo que é verdadeiro sobre a criação de Deus ou algo que é meramente especulação. Todo esse trabalho árduo leva tempo, e isso significa que não devemos saltar a conclusões precipitadas.

Deus nos criou à sua imagem como criaturas racionais. Nossas faculdades cognitivas foram distorcidas pela queda, mas não foram destruídas, e até mesmo incrédulos podem usar essas faculdades para descobrir verdades a respeito das coisas terrenas — ao contrário das coisas celestiais, sobre as quais eles são completamente cegos (Calvino,Institutas da Religião Cristã, 2.2.12-21). Nós não compreendemos Deus plenamente, mas isso é porque somos finitos e Deus é infinito. Fé e razão, entendidas corretamente, não podem estar e não estão em nenhum conflito real.

Tradução: Alan Cristie
Voltemos ao Evangelho.

VOCÊ FOI SALVO DE QUÊ?

Certa vez, fui confrontando por um jovem na Filadélfia que me perguntou: “Você está salvo?” Minha resposta para ele foi: “Salvo de quê?”. Ele foi pego de surpresa com a minha pergunta. Obviamente, ele não tinha pensado muito sobre o significado da questão que estava perguntando. Certamente eu não estava salvo de ser interrompido na rua e abordado com a pergunta “Você está salvo?”.
A questão de ser salvo é a questão suprema da Bíblia. O assunto das Sagradas Escrituras é o tema da salvação. Jesus, em sua concepção no ventre de Maria, é anunciado como o Salvador. Salvador e salvação caminham juntos. O papel do Salvador é salvar.
Perguntamos novamente: Salvo de quê? O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Na forma mais simples, o verbo salvar significa “resgatar de uma situação perigosa ou ameaçadora”. Quando Israel escapa da derrota nas mãos de seus inimigos no campo de batalha, ele se diz salvo. Quando as pessoas se recuperam de uma doença com risco de vida, elas experimentam salvação. Quando a colheita é resgatada de praga ou seca, o resultado é a salvação.
Usamos a palavra salvação de uma maneira similar. Diz-se que um boxeador foi ”salvo pelo gongo” se o round termina antes do árbitro iniciar a contagem. Salvação significa ser resgatado de alguma calamidade. No entanto, a Bíblia usa o termo salvação em um sentido específico para se referir à nossa redenção definitiva do pecado e à reconciliação com Deus. Neste sentido, a salvação é da calamidade final – o juízo de Deus. A salvação final é realizada por Cristo, “que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10).
A Bíblia anuncia claramente que haverá um dia de julgamento, em que todos os seres humanos serão responsabilizados diante do tribunal de Deus. Para muitos, esse “dia do Senhor” será um dia de trevas, sem luz. Esse será o dia em que Deus vai derramar sua ira contra os ímpios e impenitentes. Será o holocausto final, a hora mais escura, a pior calamidade da história humana. Ser liberto da ira de Deus, que muito certamente virá sobre o mundo, é a salvação definitiva. Esta é a operação de resgate que Cristo executa para o seu povo, como seu salvador.
A Bíblia usa o termo salvação não só em muitos sentidos, mas em muitos tempos. O verbo salvar aparece em praticamente todos os possíveis tempos da língua grega. Há o sentido de que fomos salvos (desde a fundação do mundo); estávamos sendo salvos (pela obra de Deus na história); somos salvos (por estar em um estado justificado); estamos sendo salvos (por estarmos sendo santificados ou tornado santos) e seremos salvos (por experimentar a consumação da nossa redenção no céu). A Bíblia fala da salvação em termos de passado, presente e futuro.
Às vezes, nós igualamos a nossa salvação presente com a nossa justificação. Em outros momentos, vemos a justificação como um passo específico na ordem total ou plano de salvação.
Por fim, é importante notar outro aspecto central do conceito bíblico de salvação. A salvação é do Senhor. Salvação não é uma iniciativa humana. Os seres humanos não podem se salvar. A salvação é uma obra divina, que é realizada e aplicada por Deus. Somos salvos pelo Senhor e do Senhor. É ele quem nos salva da sua própria ira.
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 - R. C. Sproul
Traduzido por Annelise Schulz | iPródigo.com | Original aqui
Via: Voltemos ao Evangelho

Por que precisamos da Bíblia?

A necessidade primária para o registro da Bíblia, foi o pecado do homem. No Éden só havia um livro: o livro da natureza; todavia, com o pecado humano, a natureza também sofreu as consequências, ficando obscurecida, perdendo parte da sua eloquência primeva em apontar para o seu Criador (Gn 3.17-19) e, como parte do castigo pelo pecado, o homem perdeu o discernimento espiritual para poder ver a glória de Deus manifesta na criação (Sl 19.1; Rm 1.18-23). A Revelação Geral que fora adequada para as necessidades do homem no Éden – embora saibamos que ali também se deu a Revelação Especial (Gn 2.15-17,19,22; 3.8ss) –, tornou-se, agora, incompleta e ineficiente para conduzir o homem a um relacionamento pessoal e consciente com Deus. A observação de Calvino, parece-nos importante aqui: “Lembremo-nos de que nossa ruína se deve imputar à depravação de nossa natureza, não à natureza em si, em sua condição original, para que não lhe lancemos a acusação contra o próprio Deus, autor dessa natureza.”

Através da História Deus separou e preparou homens para que registrassem de forma exata e infalível os seus desígnios, sendo a Palavra de Deus escrita, dentre outras coisas, “o corretivo às ideias disformes que pode dar-nos a natureza em seu estado caído.”

Desta forma, a Bíblia tem um caráter instrumental e temporário, embora que os seus efeitos e as suas verdades sejam eternos. O que estamos querendo dizer, é que na eternidade não haverá mais a Bíblia; apenas teremos a visão ampla e experimental daquilo para o qual ela apontava: A vitória do Cordeiro!

Necessidade Consequente:

Como consequência lógica do argumento anterior, podemos observar que a Bíblia foi escrita para registrar de forma cabal e inerrante a vontade de Deus referente ao aqui e agora e ao lá e depois, evitando assim, os desvios naturais, fruto do pecado humano. Por isso, só se considera adequada a revelação de Deus contida na Bíblia; somente através das Escrituras, o homem pode ter um conhecimento de Deus livre de superstições.

Calvino compreendendo bem este fato, escreveu:


Com efeito, se refletimos quão acentuada é a tendência da mente humana para com o esquecimento de Deus, quão grande a proclividade para com toda sorte de erro, quão pronunciado o gosto de a cada instante forjar novas e fantasiosas religiões, poder-se-á perceber quão necessária haja sido tal autenticação escrita da celeste doutrina, para que não deperecesse pelo olvido, ou se dissipasse pelo erro, ou fosse da petulância dos homens corrompida.

A Bíblia como Palavra inspirada e inerrante de Deus, dá ao homem a resposta adequada às necessidades espirituais de que tanto carece, apontando para Jesus Cristo (Jo 5.39) e para o poder de Deus. Nas Escrituras encontramos a esperança da vida preparada, realizada e consumada pelo Deus Triúno (Rm 15.4; 1Jo 5.13). A Bíblia não foi registrada apenas para o nosso deleite espiritual; mas para que cumpramos os seus preceitos, dados pelo próprio Deus (Dt 29.29; Js 1.8; 2Tm 3.15,16; Tg 1.22); a Bíblia também não nos foi dada para satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa (Dt 29.29), que em geral ocasiona especulações esdrúxulas e facções; Ela foi-nos concedida para que conheçamos o seu Autor e, o conhecendo o adoremos e, o adorando, mais o conheçamos (Os 6.3; 2Pe 3.18).8 A Bíblia foi-nos confiada a fim de que, mediante a iluminação do Espírito Santo, sejamos conduzidos a Jesus Cristo (Jo 5.39; Lc 24.27,44), sendo Ele mesmo Quem nos leva ao Pai (Jo 14.6-15; 1Tm 2.5; 1Pe 3.18) e nos dá vida abundante (Jo 10.10; Cl 3.4). Por isso, “ao estudarmos Deus, devemos procurar ser conduzidos a Ele. A revelação nos foi dada com esse propósito e devemos usá-la com essa finalidade”.


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quinta-feira, 17 de abril de 2014

7 Maneiras de Combater o Evangelho da Prosperidade

“Ser pobre é pecado” (Robert Tilton).
“Se agradarmos a Deus, seremos ricos” (Jerry Savelle).
“Deus quer que seus filhos vistam as melhores roupas, [...] dirijam os melhores carros e tenham o melhor de tudo; apenas peça o que precisa” (Kenneth Hagin, Sr.).
Essas são afirmações desconcertantes, porém comuns dos pregadores do “evangelho da prosperidade”. O deus deles é uma espécie de empreendedor cósmico que pode ser usado através dos dízimos e das ofertas para alcançar o que realmente importa: uma vida próspera em termos meramente terrenos.
“Foge também destes”
Paulo nos constrange a ficar longe de “pessoas que têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5). E em sua segunda carta a Timóteo, ele adverte seu filho na fé que “nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, [...] mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes!” (2Tm 3.1-5).
Pedro também nos avisa que, assim como houve falsos profetas entre o povo de Deus na antiga aliança, “surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram” (2Pe 2.1-3; cf. Jd 11-16).
Infelizmente, apesar dos avisos claros das Escrituras, o evangelho da prosperidade possui um enorme e crescente grupo de seguidores. Isso não é difícil de entender, visto que a mensagem apela tão diretamente à nossa ganância natural. Ainda assim, é triste e desconcertante ver que tantas pessoas permanecem no movimento por um longo tempo, até mesmo por toda a vida, uma vez que os pregadores não são capazes de cumprir suas promessas.
A psicologia do evangelho da prosperidade
Por que o evangelho da prosperidade é tão atraente? Como ele ganha e mantém seguidores? Eu recentemente conversei com um irmão que esteve envolvido no movimento por 10 anos, que lançou alguma luz sobre a psicologia do evangelho da prosperidade.
  1. Um deus facilmente manipulado
  2. O evangelho da prosperidade é atraente porque nos oferece um deus facilmente manipulado. Apesar dos ataques dos ateístas militantes nas últimas décadas, o homem não pode eliminar do seu coração a ideia de Deus, porque Deus deixou evidências de sua presença em toda a criação e deu ao homem a capacidade de entender essa evidência (Rm 1.18-21). O que torna o evangelho da prosperidade atraente para o homem caído é que ele parece colocar Deus do seu lado, eliminando o obstáculo da sua santidade e soberania.
    O deus desses evangelistas não é aquele revelado nas Escrituras, de quem devemos nos aproximar segundo as condições que ele estabeleceu. Em vez disso, o deus deles é uma combinação do gênio da lâmpada de Aladim com um psiquiatra todo-poderoso, que pode ser facilmente manipulado através de ofertas e “palavras de fé”.
  3. Culpa e ganância
  4. Segundo, o evangelho da prosperidade atrai as pessoas porque ele cria um ciclo de culpa e ganância. Quando as ofertas de riquezas ou saúde demoram para se materializar, as pessoas culpam a si mesmas por sua falta de fé ou por não serem generosas o suficiente. Essa culpa, combinada com a ganância em seus corações, as mantém agarradas às promessas desses falsos evangelistas, assim como o viciado em jogatina volta ao cassino diversas vezes esperando que um dia terá sorte.
  5. Temor religioso
  6. Tais “evangelistas” tendem a inculcar temor religioso em seus seguidores para que eles não ousem questionar “o ungido do Senhor”. Isso impede a capacidade de seus ouvintes de objetivamente analisar o conteúdo da mensagem e a dicotomia evidente entre o estilo de vida deles e o modelo apresentado pelas Escrituras, sobre como o ministro do evangelho deve viver (1Co 4.9-13; 2Co 4.7-11, 11.23-28).
  7. Mordomia traz prosperidade
  8. Outro fator que sustenta a propagação desse falso evangelho é que alguns experimentam, de fato, um grau de prosperidade financeira como consequência de colocar em prática princípios gerais de boa administração que aprendem em tais igrejas. Isso parece confirmar a legitimidade da mensagem que, por sua vez, aumenta a ganância em seus corações, pois “quem ama o dinheiro jamais dele se farta” (Ec 5.10).
Instruções para imunização
Como podemos imunizar nossos ouvintes contra essa ameaça? Eu tenho sete sugestões.
  1. Ensine-os a ler a Bíblia em seu contexto. Os pregadores da prosperidade citam as Escrituras, especialmente o Antigo Testamento, mas negligenciam os contextos geral e imediato dos textos que citam.
  2. Apresente claramente as exigências do evangelho (Mc 1.14-15; At 2.38, 3.19, 26) e o verdadeiro discipulado (Mc 8.38-37; Lc 14.25-33; Fp 1.29).
  3. Inculque neles o espírito dos bereianos (At 17.11). Uma coisa é respeitar a autoridade pastoral (Hb 13.17), mas outra coisa muito diferente é seguir cegamente um líder mesmo quando ele se afasta dos claros ensinos das Escrituras (Rm 16.17-18; Fp 3.17-19).
  4. Pregue sobre as advertências da Bíblia contra a ganância (Pv 23.4-5; Lc 12.15; 1Tm 6.6-10, 17-19; At 13.5-6).
  5. Ensine-os que Deus é bom, sábio e soberano na dispensação de seus presentes. Nem todos os seus filhos serão prósperos e saudáveis deste lado da eternidade, mas todos experimentarão o mesmo amor e cuidado paternal manifestado de diversas maneiras para a sua glória e o bem das nossas almas (Jn 11.3; Fp 2.25-30; 1Tm 5.23).
  6. Ensine-os em como lidar com a tensão de ser um filho de Deus vivendo em um mundocaído (Jn 15.18-21; 17.14-16; At 11.13).
  7. Acima de tudo, apresente Cristo como a pérola de grande valor, que infinitamente ultrapassa em valores qualquer coisa que este mundo transitório possa oferecer (Mt 13.44-46; Fp 3.7-8).
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Tradução: Alan Cristie

domingo, 6 de abril de 2014

Arrepender ou Perecer.

Estas foram as palavras do Filho encarnado de Deus. Elas nunca foram canceladas; e não serão, enquanto este mundo durar. O arrependimento é absoluto e necessário se é para o pecador fazer paz com Deus (Isaías 27:5), porque arrependimento é o lançar fora as armas da rebelião contra Ele. O arrependimento não salva, todavia nenhum pecador jamais foi ou será salvo sem ele. Nada senão Cristo salva, mas um coração impenitente não pode recebê-LO.

Um pecador não pode crê verdadeiramente até que ele se arrependa. Isto é claro a partir palavras de Cristo concernente o Seu precursor, "Pois João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe deste crédito, mas os publicanos e as meretrizes lho deram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para crerdes nele" (Mateus 21:32). Isso é também evidente a partir de Sua chamada como trombeta em Marcos 1:15, "Arrependei-vos, e crede no evangelho". Isto é o porque o apóstolo Paulo testificava "o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus" (Atos 20:21). Não faça confusão neste ponto querido leitor, Deus "ordena agora que todos os homens em todo lugar se arrependam" (Atos 
17:30).

Em requerer arrependimento de nós, Deus está pressionando Suas justas reivindicações sobre nós. Ele é infinitamente digno de supremo amor e honra, e de universal obediência. Isto nós temos impiamente Lhe negado. Tanto um reconhecimento como uma correção disto é requerido de nós. Nossa desafeição por Ele e nossa rebelião contra Ele devem ser reconhecidas e exterminadas. Dessa forma, o arrependimento é uma compreensão profunda de quão terrivelmente tenho falhado, durante toda minha vida, em dar a Deus Seu justo lugar em meu coração e em meu andar diário.

A justiça da demanda de Deus por meu arrependimento é evidente se considerarmos a natureza hedionda do pecado. Pecado é uma renúncia dAquele que me fez. É Lhe recusar Seu direito de me governar. É a determinação de agradar a mim mesmo; assim, é uma rebelião contra o Altíssimo. O pecado é uma ilegalidade espiritual, e uma indiferença absoluta à autoridade de Deus. Ele está dizendo em meu coração: Eu não me importo com o que Deus requeira, eu vou seguir o meu próprio caminho; eu não me importo com o que Deus reivindique de mim, eu serei o senhor de mim mesmo. Leitor, você não percebe que é assim que você tem vivido?

O arrependimento verdadeiro origina-se a partir de uma compreensão no coração, operado neste pelo Espírito Santo, da excessiva malignidade do pecado, do terror de ignorar as reivindicações dAquele que me fez, de desafiar Sua autoridade. Ele é conseqüentemente um santo ódio e horror do pecado, uma profunda tristeza por ele, e o reconhecimento dele diante de Deus, e um completo abandono dele de coração. Até que isto tinha sido feito, Deus não nos perdoará. "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia" (Provérbios 28:13).

No verdadeiro arrependimento o coração se volta para Deus e reconhece: Meu coração tem sido posto sobre um mundo vão, que não pode satisfazer as necessidades de minha alma; eu Te abandonei, a fonte de águas vivas, e me voltei para cisternas rotas que nada retêm: eu agora reconheço e lamento minha tolice. Ele ainda diz mais: eu tenho sido uma criatura desleal e rebelde, mas eu não mais serei assim. Eu agora desejo e determino com todo meu poder servir e obedecer a Ti como meu único Senhor. Eu me entrego a Ti como minha presente e eterna Porção.

Leitor, seja você um Cristão professante ou não, é arrepender ou perecer. Para cada um de nós, membro de igreja ou não, é voltar ou queimar; voltar da direção da obstinação e auto-satisfação; voltar para Deus com um coração quebrantado, procurar Sua misericórdia em Cristo; voltar com total propósito de coração de Lhe agradar e servir: ou ser atormentado dia e noite, para sempre e sempre, no Lago de Fogo. Qual deve ser sua porção? Oh, ajoelhe-se agora mesmo e implore a Deus que te dê o espírito de verdadeiro arrependimento.

"Sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão de pecados" (Atos 5:31).

"Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo opera a morte". (2 Coríntios 7:10).

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A.W. Pink
Fonte: Monergismo.

quarta-feira, 19 de março de 2014

DEUS ODEIA O PECADO E AMA O PECADOR?

A frase “Deus ama os pecadores, mas odeia o pecado” não está na Bíblia. É fruto de uma reflexão derivada de uma psicologia secular, humanista e completamente diabólica. E o mais incrível é ver pessoas que se dizem crer em Deus por meio de Sua Palavra, exclamarem tal afirmação e afagarem o seu peito, defendendo com unhas e dentes tal jargão. Não importa se isso é anti-bíblico ou não; não importa todo o contexto; não importa a hermenêutica; nada disso importa; o que importa é que o “meu deus” é assim, amoroso sem limites. Esta é a ideia atual. É completamente incompatível e contradizente um Deus amoroso e misericordioso, possuir em Seu caráter um atributo chamado ódio. Primeiro, eles mesmos afirmam por meio de uma frase que não se encontra na Palavra de Deus, que Ele “odeia o pecado” e depois vem nos perguntar como Deus pode possui ódio em seu caráter? Espera aí! Isso é distúrbio mental.
Mas vamos olhar para o que a Palavra de Deus, a saber, a Bíblia Sagrada, nossa unica regra de fé e pratica nos diz:
“O SENHOR prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma.” (Salmos 11:5)
“Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.” (Provérbios 6:16-19)
“Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade.” (Salmos 5:5)
“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de eqüidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” (Hebreus 1:8-9)
“Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.” (Romanos 9:13) e muitos outros versículos que dizem a mesma coisa.
Os versículos acima citados são claros como a neve. Não podem serem negados por alguém que seja racional e pense logicamente. Não se pode separar o pecado do pecador. Não se pode punir o pecado e não pecador. No inferno, Deus não punirá o pecado fora do pecador, antes é o individuo o alvo principal da Ira de Deus. O pecado nasce no coração do homem. O homem é o fabricante do mesmo. O homem não apenas ama praticar o pecado, como ele em si mesmo é o pecado.
Mas agora, lhe digo: “Deus ama pecadores. Você pode dizer: Você não sabe o que fala. Primeiro diz que Deus odeia os pecadores e depois vem dizer o oposto disso? Isso é a pior contradição que já vi”. Não, isso não é uma contradição. Vejamos: Quando Deus salva uma pessoa, a regenera, veste-a com vestes brancas como a neve, com vestes de justiça. Os méritos de Cristo são atribuídos em sua vida. Deus a ama cristocêntricamente. Pelos méritos de Cristo, por sua perfeita e imaculada justiça. Mas o homem salvo continua sendo um pecador. Mas estes pecados são cobertos pela justiça eterna de Jesus. E esta justiça o leva a arrepender-se constantemente. Deus não as ama por aquilo que elas são, pois não há nada no homem digno de atrair em Deus seu afeto e amor, mas apenas seu ódio. Deus ama Cristocêntricamente pessoas salvas.
Fonte: Caráter Puritano

É triste ver a cristandade sendo enganada e ludibriada com esse evangelho aguado, torpe, morno, distorcido e satânico que é pregado hoje em dia nas “igrejas”. Chega de palhaçada, chega de brincar de pregar o Evangelho, chega de brincar de ouvir o Evangelho, chega de enganação! Voltemos para o puro e simples Evangelho da graça de Deus pregado por Jesus Cristo, seus apóstolos e tantos homens de Deus pela história afora. Dediquemo-nos com amor e respeito reverente à leitura e estudo da Palavra de Deus. O tempo se abrevia.
I Corintios 11:19 – “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.”
Que o amor de Deus e a Paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo sejam com todo o povo de Deus, hoje e sempre.
Em Cristo, Alessandro Baltieri

Leia a Bíblia.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Deus e a lógica: comprimindo Deus ou divinizando a razão?

Por Luciano Sena


Esse assunto ocupa um espaço nos debates Apologéticos, Cristãos e Reformados. Dentro no arraial cristão grupos digladiam-se - 'entre família'-, gastando energias (e outras coisas mais) para expor se um movimento será mais ou não... é... bíblico e/ou lógico? Bem é difícil até mesmo definir o real motivo da divisão.

Alguns destacariam que a lógica é tão importante, que mesmo uma postagem de um leigo não seria inteligível se não existisse lógica – quando as coisas não são bem explicadas, as coisas ficam sem lógica! Tal é a importância da lógica.

Precisamos ter algumas reservas quanto ao poder da lógica/razão; não em ser a lógica a conclusão necessária de toda proposição, mas como meio instrumental de receber, ou mesmo 'entender', Deus. Quando Deus usou a lógica para nos comunicar coisas (A Bíblia), não significa que tal instrumento, a lógica/razão, pode ser um veículo na nossa busca de Deus.

O Rev. Cleverson, professor de Teologia Sistemática no IBEL disse certa vez:“Deus é suprarracional.” Ele quis dizer que Deus está acima da lógica. Alguns poderiam sobrepor dizendo: “Como ele sabe disso? Não seria usando a lógica?” Simples: Reconhecendo que testaremos algumas doutrinas até certo ponto com a nossa capacidade. Mas ela não é o cânon para finalizar o exame.

Outros poderiam também destacar: “para Deus 1 + 1  é = 2???”  Bem, deve ser, visto que eu dei números e a 'regra matemática'!. Mas se Deus perguntasse algo de seu mundo para mim, ou mesmo algo em relação a como ele trabalha no tempo tendo todas as coisas diante de si desde toda a eternidade, lanço-me em terra e só posso repetir as palavras de Romanos 11.33-36.

Quando leio sofisticados argumentos filosóficos para provar a existência de Deus, fico impressionado com ‘tanta epistemologia’. Mas bem pouco de Evangelho que é o poder de Deus (Rm 1.16) – e segundo a lógica, poder é Poder!

"Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu ['religioso?'], e também do grego ['intelectual?']."

Não, por favor, não estou dizendo que são inúteis, só estou dizendo que tais argumentos sem o Evangelho pode convencer mas não converter! Você no máximo produzirá um teísta condenado ao inferno, mas não um pecador perdoado e regenerado para o céu, obra que o Espírito Santo só faz por meio da Palavra de Deus.

Para mim, leigo obviamente, o problema vai mais longe do que dividiu Clark de Van Til, mais fundo do que Sproul de Frame protagonizam. O grande problema é usar nossa limitação e não a revelação, achando que poderíamos chegar a alguma conclusão segura, sem o pleno conhecimento bíblico.

O mesmo pastor que citei, também disse: “O limite da lógica é a Escritura.*”

Meu pensamento é que Apologética é Evangelização. Eu não me identificaria com as linhas apologéticas que existem, embora todas são ótimas. Acredito que deveríamos ter um tipo de apologética adaptada, ao contexto e ao indivíduo que estamos evangelizando.

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*Veja parte de um estudo do Reverendo Cleverson Gilvan AQUI

domingo, 16 de março de 2014

OS EFEITOS DO EVANGELHO.

Os efeitos do Evangelho são de natureza completamente diferente. Eles consistem em que, em primeiro lugar, o Evangelho, ao exigir a fé, nos oferece e dá a fé na própria exigência. Quando nós pregamos ao povo: Creiam no Senhor Jesus Cristo, Deus lhes dá a fé através de nossa pregação. Nós pregamos fé, e toda a pessoa que não resiste obstinadamente, obtém fé. Não é, na verdade, o mero som físico da palavra falada que produz este efeito, mas o conteúdo da palavra.

O segundo efeito do Evangelho é que ele de modo algum condena o pecador, mas tira dele todo terror, todo medo e toda angústia, e o enche de paz e alegria no Espírito Santo. Quando o filho pródigo volta para casa, o pai não se refere nem com uma única palavra à conduta abominável e horrível do filho. Ele não diz nada, nada mesmo, a respeito de tudo isso. mas se atira nos braços do filho, beija-o e lhe prepara uma maravilhosa festa de boas-vindas. Essa é uma parábola gloriosa que nos mostra o efeito do Evangelho. Ele remove toda inquietude e nos enche com uma paz celestial e abençoada.

Em terceiro lugar, o Evangelho não exige nada da pessoa: não exige um bom coração, boa disposição, condição melhor, piedade, santidade, nem amor para com Deus ou para com o próximo. Não dá nenhuma ordem, mas modifica o indivíduo. Ele planta o amor no seu coração e o torna capaz de toda boa obra. Não exige nada, mas dá tudo. Tudo isso não é motivo para nós saltarmos de alegria?


- C. F. W. Walther, A correta distinção entre Lei e Evangelho, pág. 33.

sexta-feira, 14 de março de 2014

CARACTERÍSTICAS DA FÉ REFORMADA

Reformar ou renovar equivale a dar a forma que se tinha quando novo. Originalmente o terno Reformada caracterizava aquelas igrejas do século XVI que se levantaram para dar à Igreja da Idade Média a forma da Igreja primitiva, a forma original da Igreja. Em sentido amplo, esse termo podia ser aplicado a todas as igrejas da Reforma. Em tempos mais recentes, contudo, ele passou a ter um significado mais restrito, identificando as igrejas que professam as doutrinas da Graça, conforme apresentadas no sínodo de Dordtrech, na Holanda (1610-1618); o movimento ficou também conhecido como Calvinismo (cf. Harvie M. Conn - Teologia Contemporanea en el Mundo - pp. 149 ss).

Evidentemente, nunca foi propósito dos Reformadores fundar uma nova denominação. Lutero sempre viu a si mesmo como um fiel servo da Igreja. Daí o seu profundo desgosto pelo fato de os primeiros protestantes, na Inglaterra e na França, assim como na Alemanha, terem sido chamados luteranos. Isso pode ser visto em suas próprias palavras. Ele escreveu:
A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso do meu nome e não se chamem “luteranas”, mas “cristãs”. Quem é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. ... Como eu, miserável saco fétido de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome? (Timothy George - Teologia dos Reformadores - p. 55).

Lutero registrou assim o seu sentimento em 1522, sem falsa humildade, mas com um esforço real para impedir um culto à personalidade. Lamentavelmente, seu desejo não foi atendido nos termos em que ele colocou. A Igreja Luterana não cultua o seu maior teólogo, mas o seu nome continua a identificar a denominação.

Já no trabalho de Calvino, reformando a crença na autoridade de Cristo e na Palavra de Deus como única regra de fé e prática, com forte ênfase no sistema de governo da Igreja; o movimento passou a ser conhecido por essas características. Assim, raramente se ouve sobre calvinismo, exceto nos círculos teológicos. Nossa Igreja não se chamaIgreja Calvinista, como também não se chama Igreja Paulina; e os escritos de Paulo são muito mais importantes que os de qualquer reformador. Na verdade, duas das características do movimento deram nome aos seus adeptos: 1º- o termo “reformada” - oriundo do propósito dos Reformadores de dar à Igreja da Idade Média a forma da Igreja primitiva, a forma original da Igreja. Esse termo é largamente usado em todo o mundo; 2º - o termo “presbiterianismo” - decorrente da ênfase dada pelos Reformadores à forma de governo, indicando que a Igreja é regida pelos presbíteros.

A Fé Reformada possui quatro características básicas: (1) histórica; (2) doutrinária; (3) emocional; e (4) prática.

1º. Histórica: A queda; a chamada de Abraão; a encarnação, a vida, a morte e a ressurreição de Cristo. Como diz Paulo:

Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. Porque se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo, pereceram (I Co 15:12-18).

O argumento de Paulo é simples, ele diz que se a ressurreição de Jesus não é um fato histórico toda a nossa fé é inútil, indicando claramente que os fatos registrados na Bíblia, Antigo e Novo Testamentos, são históricos e verdadeiros. Assim, acreditamos que verdadeiramente Deus criou o mundo, como está registrado em Gênesis; e cremos em todos os relatos bíblicos como sendo a inerrante Palavra de Deus.

Mas se nós só pregarmos história, seremos meros repórteres que lêem um texto. Assim, por questão de justiça à Fé Reformada, ao defini-la, precisamos incluir as outras três características.

2º. Doutrinária: Se a doutrina não é ensinada o povo perece por falta de conhecimento e será levado por qualquer vento de ensino e por filosofias humanas produzidas por mentes corruptas.

Da Palavra de Deus recebemos o verdadeiro ensino quanto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo; e a Palavra de Deus é o nosso livro texto para ensinar a verdade à Igreja.

Mas, à semelhança do que falamos sobre o aspecto histórico, também não podemos restringir nossa pregação ao caráter doutrinário, pois isso nos tornaria apenas címbalo que soa, meros ensinadores de fórmulas.

3º. Emocional: A menos que o Espírito de Deus opere, produzindo uma experiência viva em nós; a menos que sintamos o que Deus faz por nós; não seremos diferentes em nada das demais religiões.

Mas, novamente, se pregarmos somente emoção, então estaremos dando lugar à velha crítica marxista: “A religião é o ópio do povo”. Cada característica tem o seu lugar próprio na composição do que chamamos Fé Reformada.

4º. Prática: A Fé Reformada deu-nos: a) a Bíblia em nossa língua materna; b) o direito de cultuar conforme a nossa consciência; c) a prática apostólica da pregação do Evangelho; d) desenvolvimento da ciência.

Portanto, essas quatro características devem estar sempre presente na pregação Reformada, e é a integração delas que vai produzir o seu caráter mais importante e singular.

Alguém já disse que a Fé Reformada tem sido chamada de “doutrina de ferro”, e que mesmo isso não sendo um elogio, tem que ser admitido que ela tem produzido homens com caráter de aço: Calvino, Kuyper, Cromwell, Knox, etc.

A Teologia de Calvino foi responsável pelo despertamento religioso da Escócia. Foi a doutrina de Calvino, sobre o estado como servidor de Deus, que estabeleceu a idéia de governo constitucional e que conduziu ao reconhecimento dos direitos e liberdades dos súditos. Foi a Fé Reformada que valorizou a mulher, que incrementou a educação e o preparo de homens para melhor servir na comunidade. É duvidoso que algum teólogo tenha desempenhado um papel tão significativo quanto o de Calvino na história mundial.

I - A FORÇA DA FÉ REFORMADA

A Escritora batista Ruth A. Tucker, não sei se deliberadamente, minimiza o trabalho missionário da Fé Reformada, deixando bem claro o seu comprometimento confessional ao dizer:

Os calvinistas usavam geralmente a mesma linha de raciocínio (comparação feita com os luteranos) acrescentando a doutrina da eleição que faziam as missões parecerem inúteis se Deus já escolhera aqueles a quem iria salvar (Ruth A. Tucker - Até aos Confins da terra - p.70).
Sobre isso, há dois pontos a considerar:

Primeiro: Que a doutrina bíblica da eleição, não só não desestimula o evangelismo, como, pelo contrário, é um dos maiores incentivos à obra missionária. Senão vejamos: Como é do conhecimento de todos os crentes, o homem natural está morto em seus pecados e, nessa condição, de nada adiantaria pregar-lhe a Palavra de Deus, mesmo porque os mortos não possuem vontade, não podem ouvir. O que nos estimula a pregar, portanto, é o conhecimento de que o Espírito de Deus vai atuar em alguns abrindo-lhes os ouvidos para que ouçam e os olhos, para que vejam. Em quem atuará o Espírito de Deus? Em quem Deus quiser! Deus atuará em Seus eleitos. E louvado seja Deus pela bendita doutrina da Eleição, porque sem ela, de que nos adiantaria pregar o Evangelho para homens mortos?

Segundo: Que os frutos dos que crêem na doutrina da Eleição demonstram claramente o equívoco preconceituoso de Ruth Tucker: O que dizer da influência da Fé Reformada em Genebra; da obra de John Knox, na Escócia; do trabalho de Cromwell, na Inglaterra; de Kuyper, na Holanda; da colonização dos Estados Unidos; dos missionários enviados por Calvino ao Brasil? E se isso não fosse suficiente, uma rápida olhada na estatísticas comprovaria o equívoco dessa escritora: A Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, que se regem pelo sistema de presbíteros, inclui cento e vinte denominações independentes cujos membros atingem o número de quarenta e sete milhões (cf.Enciclopedia ilustrada de historia de la Iglesia - Samuel Vila & Dario A. Santamaria).

Whitehead, um filósofo e matemático ateu, disse que o cristianismo tem ensinado que Deus criou o mundo externo com existência real; e que, em virtude de Ele ser um Deus racional, os seres humanos podem decifrar a ordem do universo pelo uso da razão. Ele não era cristão, mas compreendeu que nunca teríamos a ciência moderna sem a perspectiva bíblica do cristianismo. E, mais uma vez, essa ênfase é decorrente da Fé Reformada.

A Igreja Presbiteriana Reformada tem se estendido para todo o mundo. A obra Reformada no Brasil, iniciada sem sucesso pelos Huguenotes em 1555; foi, em 1859, reiniciada pelos missionários americanos e é, atualmente, uma dos ramos da Igreja de Cristo de mais progresso no mundo.

Quando se deu a Reforma, em 1517, não se sabia até que ponto ela ia crescer. É gratificante testemunhar como Deus aceitou a atitude dos Reformadores. Desde então muito se tem falado sobre a Fé Reformada, mas nem mesmo a metade de seu valor, praticidade e beleza foi ainda contado.

Acredito que a causa que dá esse extraordinário poder à Igreja Reformada para seguir implantando os princípios bíblicos entre os povos é a sua singularidade: A Igreja Reformada reconhece sem qualquer reserva que Deus é Deus, e reconhece isso em todas as esferas da vida. Só a Igreja Reformada aceita a absoluta soberania de Deus, para a glória do Senhor e o reino de Sua lei em todos os aspectos.

Sustentar que Deus é Deus eqüivale a dizer que o homem é aquilo que a Palavra de Deus diz que ele é. A Igreja Romana confessa a absoluta soberania de Deus, mas não admite que o homem seja aquilo que Deus diz que ele é; e tanto na antropologia quanto na soteriologia ela é semipelagiana. Os arminianos também se aproximam dessa mesma situação.

O que significa ver Deus como Deus e o homem como Deus diz que ele é? Na verdade isso tem que ver com todos os aspectos da vida. Deus é o Criador de todas as coisas. Ele fez tudo para proclamar o Seu poder e a Sua glória. Nós adoramos a Deus como o Criador do universo, e é nosso dever honrá-Lo em todo tempo, em todos os lugares, e em tudo que fizermos. Todas as coisas pertencem a Deus. O homem pertence a Deus. Nada, por menor que seja, pode ser tirado do Seu império e domínio.

Como isso influencia? Podemos constatar que na sociedade moderna não há mais lugar para Deus na vida pública. É requerida muita coragem, em nossos dias, para se confessar que Deus é Deus, e que Ele é aquele que reina supremo sobre o mundo e seus habitantes. Assim, quem professa a Fé Reformada tem o senhorio de Cristo na vida familiar, social, estudantil, trabalhista, etc; e está comprometido com Deus. Isso é um fator determinante no seu comportamento e no papel que desempenha na sociedade.

II - A SINGULARIDADE DA FÉ REFORMADA

Primeiro: Só a Fé Reformada pode, de modo coerente, sustentar a soberania absoluta do Senhor. Talvez alguém possa objetar que a Fé Reformada é dualista, porque mantém a tensão entre Deus e o homem. Mas é exatamente essa tensão que explica que a Fé Reformada não é dualista. As duas partes, Deus e o homem, não estão no mesmo nível. Deus é Criador, e o homem é Sua criatura.

Assim, de modo coerente, posiciona-se a Fé Reformada: Porque crê que Deus é verdadeiramente Deus, crê, também, que só a Palavra de Deus é regra de fé e prática; por conseguinte, vê o homem como a Bíblia diz que ele é: uma criatura de valor, feita à imagem e semelhança de Deus, vice-gerente de Deus na terra, responsável pela administração das obras das mãos de Deus, contudo caído e morto em pecado, incapaz até mesmo de desejar o bem.

Segundo: Por isso, a Fé Reformada é oposta a tudo que é contrário aos ensinamentos das Escrituras Sagradas. Ela rejeita a hierarquia Católico-romana, rejeita o luteranismo, e condena o arminianismo.

A Fé Reformada tem aspectos que lhe são peculiares, únicos. A história nos ensina isso e a situação atual justifica. A Fé Reformada tem deixado a sua marca nas grandes nações do mundo. As terras da Alemanha e Escandinávia são luteranas. Há grandes igrejas luteranas. Contudo essa é uma religião ligada a um povo. Mesmo no Brasil, as igrejas luteranas estão praticamente restritas às regiões Sul e Sudeste, onde estão grandes colônias alemãs. E ainda assim, não há qualquer influência benéfica para o povo em geral. A Igreja Luterana é como se fosse uma embaixada alemã, um território alemão.

A Igreja Católica Romana também não tem influência na vida cotidiana de seus adeptos, não há disciplina e nem acompanhamento. Além disso, ela não possui energia independente de seus sacerdotes. Sacerdotes estes que possuem uma formação mas acentuada em Filosofia do que em Teologia propriamente falando. Enfim, sem o Papa não haveria a Igreja Católica Romana. Isso mostra que ela também está ligada de modo vital a um homem de uma região geográfica, e pode ser vista como uma embaixada de Roma em cada país.

Já a Igreja Reformada é um sistema religioso que contém todos os ingredientes necessários em si mesma. Seus ensinos requerem uma postura ética correta perante a família e a sociedade; e um comportamento digno do nome que a Palavra de Deus nos outorga. Em cada país a Igreja possui sua própria identidade e independência. Isso é visto em todo o mundo e pode ser constatado pela escolha que cada uma faz no uso dos símbolos de fé: A Confissão de Westminster, os Cânones de Dorth, a Confissão Helvética, o Catecismo de Heidelberg e outros. Contudo, quaisquer que sejam os símbolos adotados, as igrejas reformadas se mantêm seguras no imutável princípio de que a Palavra de Deus é a única regra de fé e prática.

III - O LUGAR DA PALAVRA DE DEUS NA FÉ REFORMADA

Do ensino de que Deus é Deus, e de que o homem é aquilo que Deus diz que ele é, depreende-se que devemos respeitar e amar a Palavra de Deus como sendo o próprio Deus. E deve ser dito, em honra da Fé Reformada, que ela é fiel à Palavra de Deus. No século XIX, com a influência aristotélica, surgiu a crítica à Bíblia. Homens, escudados na tese filosófica de que o homem julga todas as coisas, se colocaram acima da Bíblia para criticá-la; e o sucesso deles foi aparentemente enorme. Também por isso é necessário reafirmar o conceito de que é um erro dizer que um homem não pode tornar-se teólogo sem Aristóteles. A verdade é que não pode tornar-se teólogo sem se livrar de Aristóteles. Em resumo, comparando com o estudo da Teologia, o todo de Aristóteles é como a escuridão para a luz. (cf. Teologia dos Reformadores p. 59 - Timothy George).

Também neste aspecto, deve-se notar a diferença na atitudes do luteranismo, romanismo e da Fé Reformada. Os luteranos mostraram bem pouca resistência às novas idéias. O romanismo convive com toda espécie de conceitos filosóficos, humanistas e liberais. Somente a Fé Reformada posicionou-se a favor da inerrância, da inspiração verbal das Escrituras, e de todas as conseqüências decorrentes desse ponto de vista. Uma teoria bem conhecida sustenta que a Bíblia tem autoridade somente na esfera religiosa e ética. Outros dizem que a Bíblia tem autoridade sobre o homem na medida que ele aceita e crê nessa autoridade. Ainda outros dizem que ela é a Palavra de Deus somente quando fala ao nosso coração. A Fé Reformada rejeita todas essas teorias e confessa que a Bíblia é a Palavra de Deus e que é autoritativa em todas as esferas da vida. Todas as coisas escritas na Bíblia são verdadeiras porque são a Palavra de Deus.

Tudo isso tem suas conseqüências. A Igreja Reformada dá grande ênfase ao estudo cuidadoso das Escrituras. O próprio Calvino foi o maior exegeta do período da Reforma. A nossa fé não pode ter outro fundamento que não seja o da Palavra de Deus. As experiências e as boas intenções humanas não substituem a revelação especial de Deus. A Igreja Romana possui salas e mais salas onde estão registrados os “milagres” operados pelos seus santos, nem por isso somos Romanos! Os espíritas dizem fazer curas, cirurgias miraculosas; e se caracterizam pela prática de “boas obras”; mas isso também não nos leva a ser espíritas! O budismo possui as suas virtudes; mas também não somos budistas! Poderíamos falar muito sobre os tantos conceitos humanos, mas considerem: Se fôssemos seguir experiências e boas intenções, o que seríamos? Romanos, espíritas, budistas, ou o quê? Todos têm boas intenções, mas não seguem a Bíblia. Doutrina não se baseia, pois, em sentimento ou experiência, e nem mesmo em boas intenções. Doutrina baseia-se única e exclusivamente na imutável Palavra de Deus. Não cremos, hoje, em revelações fora da Bíblia e, por isso, não somos pentecostais ou liberais; somos Reformados.

CONCLUSÃO

Tudo isso nos leva à constatação de que o Senhor reina, de que a Sua Palavra é a nossa lei. Queremos, portanto, concluir nossas considerações com este grandioso ensino da Palavra de Deus: O Senhor reina!

Todo ser pensante pode ver facilmente que um poder soberano rege sua vida. Ninguém jamais foi questionado se desejava nascer ou não; ou quando, ou onde, ou de quem haveria de nascer; se branco ou preto; se no século vinte ou antes do dilúvio; se na América ou na China. Os crentes de todas as épocas têm reconhecido que Deus é o Criador e o Rei do universo, e portanto, nada pode acontecer fora de Sua vontade real. Deus efetivamente governa o mundo que criou. E até as obras pecaminosas do homem ocorrem somente porque Ele as permite. Se negarmos esta realidade estaremos negando o fato de que Ele reina. Se a palavra de um rei terreno é lei em sua nação, quanto mais a vontade de Deus, no mundo que Ele criou!

Contudo, isto não significa que Ele tenha poder para fazer aquilo que é contrário a Sua natureza, ou para agir de forma contraditória. É impossível que Deus minta ou faça algo moralmente errado. Como Sua onipotência é a garantia segura de que o curso do mundo está conforme o Seu plano, a Sua santidade é a garantia de que todas as Suas obras serão feitas em retidão.

Tudo, sem exceção, está sob Seu controle, e Sua vontade é a razão fundamental de tudo o que acontece. O céu e a terra e tudo que neles há são os instrumentos através dos quais Ele leva a cabo Seus propósitos. A natureza, as nações, e a fortuna de cada ser humano representam, em todas as suas variações, a fiel expressão do propósito de Deus. Os ventos são Seus mensageiros, as chamas de fogo Seus ministros. Cada acontecimento natural é obra Sua; a prosperidade é um dom de Deus; e se a desgraça chega à vida do homem, foi o Senhor quem a permitiu (Am 3:5, 6 Lm 3:33-38, Is 47:7; Ec 7:14; Is 54:16). Ele dirige os passos dos homens, queiram estes ou não; Ele enaltece e Ele abate; Ele abranda o coração e Ele o endurece; e Ele cria os próprios pensamentos e intenções da alma (Fl 2:13).

Embora o reinado de Deus seja universal e absoluto, não é um poder cego. Pelo contrário, Seu reinado está unido à Sua infinita sabedoria, santidade e amor. E esta doutrina, quando compreendida, nos traz grande consolo e segurança. Quem não preferiria que todos os aspectos de sua vida estivessem nas mãos de um Deus de infinito poder, sabedoria e amor; e não que dependessem do acaso cego ou das próprias pessoas pervertidas? Ninguém é mais habilitado que Deus para dirigir a minha vida, e, por isso, glória seja dada ao Seu nome.

A própria expressão “servo de Deus”, que caracteriza cada um de nós, traz implícita a idéia de que Ele Reina.

Portanto, louvado seja Deus que aprouve fazer uso dos homens tornando-os Reformadores para lutar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jd 1:3).

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Via: Bereianos.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Conversão ou Coerção.

Uma verdade fundamental da Bíblia é que a natureza do homem pode ser transformada apenas sobrenaturalmente. (Por “natureza”, quero dizer natureza ética, na esfera do certo e errado, não natureza metafísica, na esfera de sua constituição como um homem criado à imagem de Deus.) A Bíblia nega de forma absoluta que a natureza do homem possa ser transformada por meios puramente naturais (João 1.12-13; 1Co 2.14). Os homens são convertidos (transformados eticamente) pela regeneração. Na regeneração, o Espírito Santo implanta no homem a disposição santa perdida na Queda, na qual todos os homens nascem (2Co 5.17). Essa é a única forma pela qual a natureza do homem pode ser transformada. Se o homem há de ser transformado eticamente, ele deve ser convertido.

Quando os homens perdem a esperança na Bíblia, eles devem encontrar outras formas de tentar mudar a natureza do homem. A forma mais frequente é por meio da coersão. O exemplo mais consistente disso está nos estados comunistas modernos. Eles creem que ao expor o homem a certo estímulo externo, a sua natureza interna pode ser alterada. Ao martelar nele, por meio de propaganda, a ideia que a motivação por lucro é má para os indivíduos (embora, aparentemente, não para o Estado), eles esperam criar um Novo Homem que trabalhará para o bem da comunidade e do Estado, e não para si mesmo e sua família. Se os homens se opõem e questionam esse Estatismo, eles devem ser remodelados em campos de concentração infernais ao ser violentamente quebrados física, emocional e psicologicamente, e então remendados novamente para serem bons cidadãos estatais. Essa é uma suposição razoável para qualquer um que tenha abandonado a esperança na obra miraculosa da regeneração. Marque isso: qualquer Estado, igreja, família ou outra autoridade institucional que opte por coerção como um meio para alterar a natureza do homem abandonou a esperança no Deus da Bíblia. Isso aplica-se tanto aos estatais materialistas como também aos legalistas fundamentalistas.

A Bíblia permite a coerção somente em uns poucos e limitados casos. O Estado pode empregar a espada (Rm 13.1-7) para proteger a vida, liberdade e propriedade. (Por implicação, o Estado pode usar a coerção para proteger seus cidadãos de invasão estrangeira.) O indivíduo pode usar coerção para proteger a vida e a propriedade (Ex 22.1-2). Pais piedosos podem empregar punição corporal limitada para regular o comportamento externo dos filhos (Pv 23.13-14). Nada disso tem a intenção de alterar a natureza do homem. Multa e restituição não transformam a natureza de um ladrão, assim como uma palmada não muda a natureza de uma criança. A coerção pode proteger, no máximo, a ordem externa; ela não pode alterar a natureza do homem. Somente o Espírito de Deus pode alterar a natureza de um homem.

Não é sem motivo que o evangelho de Jesus Cristo é chamado o “evangelho da paz” (Rm 10.15; Ef 6.15). Ele cria paz com Deus, paz com o indivíduo, e paz entre o indivíduo e seus semelhantes. O aumento da coerção e da violência na família, escola, mídia e no Estado é uma marca de uma cultura ímpia e réproba. Quando os homens são convertidos, apenas um mínimo de coerção é necessária para manter seus impulsos pecaminosos em cheque. A solução para o pecado e apostasia generalizada não é coerção generalizada, mas sim conversão generalizada.


Fonte: Chalcedon Report.