quarta-feira, 14 de maio de 2014

A Fé Nega a Razão?

Diz-se que quem define os termos, vence o debate. Os céticos sabem disso e tiram vantagem. Observe uma das famosas definições de “fé” fornecidas por incrédulos. Mark Twain, por exemplo, brincou: “fé é crer no que você sabe que não é verdade”. Mais próximo aos nossos dias, o escritor ateu Sam Harris definiu fé como “a desculpa que pessoas religiosas dão a si mesmas para continuarem acreditando quando as razões falham”. Richard Dawkins, talvez o mais famoso ateu da nossa geração, afirma: “fé é o grande escape, a grande desculpa para fugir da necessidade de pensar e avaliar a evidência. Fé é a crença a despeito, ou até talvez por causa, da falta de evidência”.

A única coisa que todas essas definições têm em comum é a, explícita ou implícita, ideia de que a fé está em conflito com a razão. Infelizmente, alguns cristãos na história da igreja disseram coisas que deram suporte a essa visão de relação entre fé e razão. Martinho Lutero, por exemplo, fez declarações negativas muito pesadas sobre a razão, muitas das quais são citadas por céticos em suas tentativas de provar que o cristianismo é inerentemente irracional. Lutero chamou a razão de “a maior meretriz do Diabo”. Ele disse em diversos contextos diferentes que a razão deveria ser destruída. O contexto é crucial, porque nessas situações Lutero estava falando sobre a arbitrariedade da razão humana sozinha de discernir coisas divinas. Ainda assim, sua tendência à hipérbole passou a bola para os céticos.

A vasta maioria dos cristãos ao longo da história, todavia, não rejeitaram o correto uso da razão. Isso se sustenta pela tentativa deles de serem fiéis ao ensino da Escritura, que por si só fornece razões para crer. João escreveu seu evangelho inteiro para fornecer razões para crer que Jesus é o Cristo (João 20.30-31). João, Pedro e Paulo apelam à evidência para as afirmações que eles fazem (1 Co 15.5–6; 2 Pe 1.16; 1 Jo 1.1–4). Todos os seres humanos creem em certas coisas baseados no testemunho de outros. Os cristãos creem no que creem baseados no testemunho dos apóstolos. Tal fé é um dom, mas não é divorciada da razão.

Se vamos entender melhor o relacionamento entre fé e razão, devemos ter um entendimento mais claro sobre essas duas palavras. A palavra fé é usada de diversas maneiras diferentes pelos pensadores cristãos. Ela pode se referir às crenças que os cristãos têm em comum (a “fé cristã”). A palavra fé também pode se referir à nossa resposta a Deus e às promessas do evangelho. Isso é o que as Confissões Reformadas querem dizer quando falam de “fé salvífica” (por exemplo, CFW 14). Essa fé envolve conhecimento, concordância e confiança. Por último, muitos filósofos e teólogos falaram da fé como uma fonte de conhecimento. Como Caleb Miller explica: “As verdades da fé são aquelas que podem ser conhecidas ou justificadamente cridas por causa da revelação divina, e são justificadas por terem sido reveladas por Deus”.

A palavra razão também tem sido usada de maneiras diferentes. Ela pode se referir às nossas faculdades cognitivas humanas. A relação entre fé e razão nesse sentido envolve perguntar se as crenças cristãs são razoáveis. Em outras palavras, nós usamos apropriadamente as nossas faculdades cognitivas ao avaliar essas crenças? Nós também podemos usar razão para se referir a uma fonte de conhecimento. Em contraste com as “verdades da fé” conhecidas por revelação divina, as “verdades da razão”, nesse sentido, são verdades conhecidas através de faculdades naturais como percepção sensorial e memória. Um conflito entre conhecimento derivado de faculdades humanas naturais e conhecimento derivado da revelação divina só ocorre se uma aparente contradição surge. Finalmente, no sentido mais limitado, razão pode ser usada para se referir ao raciocínio lógico. Cristãos nunca devem argumentar que há um conflito aqui, porque essa faculdade é parte de quem somos como seres humanos criados à imagem de Deus.

A maior parte da discussão contemporânea sobre o suposto conflito entre fé e razão surgiu no contexto de discussões a respeito de ciência e religião. Limitações espaciais impedem uma discussão completa sobre essa questão, mas alguns pontos gerais devem ser avaliados para nos ajudar a entender como pensar sobre quaisquer supostos conflitos que venham surgir. Em primeiro lugar, devemos reconhecer com Agostinho, João Calvino e muitos outros que toda verdade é verdade de Deus. O que é verdade, é verdade porque Deus revelou, criou ou decretou.

ELE REVELOU: Tudo o que Deus revela, quer seja através da revelação geral na sua criação, ou através da revelação especial na Escritura, é necessariamente verdade. É impossível que Deus minta.

ELE CRIOU: Quando aprendemos algo a respeito da criação que corresponde com o que Deus criou de fato, nós aprendemos algo verdadeiro. Deus é a fonte dessas verdades em virtude do fato de ele ser o Criador.

ELE DECRETOU: Deus é aquele que decretou tudo o que vem a acontecer. Quando aprendemos algo sobre a história que está de acordo com o que de fato aconteceu, nós aprendemos algo de verdadeiro na medida em que o nosso conhecimento corresponde ao que realmente aconteceu, e o que de fato aconteceu, só aconteceu, em última análise, porque Deus decretou que acontecesse.

Um segundo ponto principal que deve ser analisado é o seguinte: se toda a verdade tem a sua fonte em Deus e toda a verdade é unificada, então uma coisa que sabemos por certo é que se há uma contradição entre uma interpretação da Escritura e uma interpretação do que Deus criou, então uma ou ambas as interpretações estão incorretas. Não podem ser ambas corretas. Cristãos devem reconhecer que o conflito pode ser devido a uma interpretação errada da criação, a uma interpretação errada da Escritura ou a uma interpretação errada de ambas. Isso significa que temos que fazer um meticuloso e cuidadoso exame tanto da teoria científica quanto da exegese bíblica para descobrir a fonte do conflito. Devemos nos certificar de que estamos lidando com o ensino verdadeiro da Escritura, em vez de uma interpretação equivocada da Escritura. E devemos examinar a evidência da teoria científica em questão para descobrir se estamos lidando com algo que é verdadeiro sobre a criação de Deus ou algo que é meramente especulação. Todo esse trabalho árduo leva tempo, e isso significa que não devemos saltar a conclusões precipitadas.

Deus nos criou à sua imagem como criaturas racionais. Nossas faculdades cognitivas foram distorcidas pela queda, mas não foram destruídas, e até mesmo incrédulos podem usar essas faculdades para descobrir verdades a respeito das coisas terrenas — ao contrário das coisas celestiais, sobre as quais eles são completamente cegos (Calvino,Institutas da Religião Cristã, 2.2.12-21). Nós não compreendemos Deus plenamente, mas isso é porque somos finitos e Deus é infinito. Fé e razão, entendidas corretamente, não podem estar e não estão em nenhum conflito real.

Tradução: Alan Cristie
Voltemos ao Evangelho.

VOCÊ FOI SALVO DE QUÊ?

Certa vez, fui confrontando por um jovem na Filadélfia que me perguntou: “Você está salvo?” Minha resposta para ele foi: “Salvo de quê?”. Ele foi pego de surpresa com a minha pergunta. Obviamente, ele não tinha pensado muito sobre o significado da questão que estava perguntando. Certamente eu não estava salvo de ser interrompido na rua e abordado com a pergunta “Você está salvo?”.
A questão de ser salvo é a questão suprema da Bíblia. O assunto das Sagradas Escrituras é o tema da salvação. Jesus, em sua concepção no ventre de Maria, é anunciado como o Salvador. Salvador e salvação caminham juntos. O papel do Salvador é salvar.
Perguntamos novamente: Salvo de quê? O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Na forma mais simples, o verbo salvar significa “resgatar de uma situação perigosa ou ameaçadora”. Quando Israel escapa da derrota nas mãos de seus inimigos no campo de batalha, ele se diz salvo. Quando as pessoas se recuperam de uma doença com risco de vida, elas experimentam salvação. Quando a colheita é resgatada de praga ou seca, o resultado é a salvação.
Usamos a palavra salvação de uma maneira similar. Diz-se que um boxeador foi ”salvo pelo gongo” se o round termina antes do árbitro iniciar a contagem. Salvação significa ser resgatado de alguma calamidade. No entanto, a Bíblia usa o termo salvação em um sentido específico para se referir à nossa redenção definitiva do pecado e à reconciliação com Deus. Neste sentido, a salvação é da calamidade final – o juízo de Deus. A salvação final é realizada por Cristo, “que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10).
A Bíblia anuncia claramente que haverá um dia de julgamento, em que todos os seres humanos serão responsabilizados diante do tribunal de Deus. Para muitos, esse “dia do Senhor” será um dia de trevas, sem luz. Esse será o dia em que Deus vai derramar sua ira contra os ímpios e impenitentes. Será o holocausto final, a hora mais escura, a pior calamidade da história humana. Ser liberto da ira de Deus, que muito certamente virá sobre o mundo, é a salvação definitiva. Esta é a operação de resgate que Cristo executa para o seu povo, como seu salvador.
A Bíblia usa o termo salvação não só em muitos sentidos, mas em muitos tempos. O verbo salvar aparece em praticamente todos os possíveis tempos da língua grega. Há o sentido de que fomos salvos (desde a fundação do mundo); estávamos sendo salvos (pela obra de Deus na história); somos salvos (por estar em um estado justificado); estamos sendo salvos (por estarmos sendo santificados ou tornado santos) e seremos salvos (por experimentar a consumação da nossa redenção no céu). A Bíblia fala da salvação em termos de passado, presente e futuro.
Às vezes, nós igualamos a nossa salvação presente com a nossa justificação. Em outros momentos, vemos a justificação como um passo específico na ordem total ou plano de salvação.
Por fim, é importante notar outro aspecto central do conceito bíblico de salvação. A salvação é do Senhor. Salvação não é uma iniciativa humana. Os seres humanos não podem se salvar. A salvação é uma obra divina, que é realizada e aplicada por Deus. Somos salvos pelo Senhor e do Senhor. É ele quem nos salva da sua própria ira.
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 - R. C. Sproul
Traduzido por Annelise Schulz | iPródigo.com | Original aqui
Via: Voltemos ao Evangelho

Por que precisamos da Bíblia?

A necessidade primária para o registro da Bíblia, foi o pecado do homem. No Éden só havia um livro: o livro da natureza; todavia, com o pecado humano, a natureza também sofreu as consequências, ficando obscurecida, perdendo parte da sua eloquência primeva em apontar para o seu Criador (Gn 3.17-19) e, como parte do castigo pelo pecado, o homem perdeu o discernimento espiritual para poder ver a glória de Deus manifesta na criação (Sl 19.1; Rm 1.18-23). A Revelação Geral que fora adequada para as necessidades do homem no Éden – embora saibamos que ali também se deu a Revelação Especial (Gn 2.15-17,19,22; 3.8ss) –, tornou-se, agora, incompleta e ineficiente para conduzir o homem a um relacionamento pessoal e consciente com Deus. A observação de Calvino, parece-nos importante aqui: “Lembremo-nos de que nossa ruína se deve imputar à depravação de nossa natureza, não à natureza em si, em sua condição original, para que não lhe lancemos a acusação contra o próprio Deus, autor dessa natureza.”

Através da História Deus separou e preparou homens para que registrassem de forma exata e infalível os seus desígnios, sendo a Palavra de Deus escrita, dentre outras coisas, “o corretivo às ideias disformes que pode dar-nos a natureza em seu estado caído.”

Desta forma, a Bíblia tem um caráter instrumental e temporário, embora que os seus efeitos e as suas verdades sejam eternos. O que estamos querendo dizer, é que na eternidade não haverá mais a Bíblia; apenas teremos a visão ampla e experimental daquilo para o qual ela apontava: A vitória do Cordeiro!

Necessidade Consequente:

Como consequência lógica do argumento anterior, podemos observar que a Bíblia foi escrita para registrar de forma cabal e inerrante a vontade de Deus referente ao aqui e agora e ao lá e depois, evitando assim, os desvios naturais, fruto do pecado humano. Por isso, só se considera adequada a revelação de Deus contida na Bíblia; somente através das Escrituras, o homem pode ter um conhecimento de Deus livre de superstições.

Calvino compreendendo bem este fato, escreveu:


Com efeito, se refletimos quão acentuada é a tendência da mente humana para com o esquecimento de Deus, quão grande a proclividade para com toda sorte de erro, quão pronunciado o gosto de a cada instante forjar novas e fantasiosas religiões, poder-se-á perceber quão necessária haja sido tal autenticação escrita da celeste doutrina, para que não deperecesse pelo olvido, ou se dissipasse pelo erro, ou fosse da petulância dos homens corrompida.

A Bíblia como Palavra inspirada e inerrante de Deus, dá ao homem a resposta adequada às necessidades espirituais de que tanto carece, apontando para Jesus Cristo (Jo 5.39) e para o poder de Deus. Nas Escrituras encontramos a esperança da vida preparada, realizada e consumada pelo Deus Triúno (Rm 15.4; 1Jo 5.13). A Bíblia não foi registrada apenas para o nosso deleite espiritual; mas para que cumpramos os seus preceitos, dados pelo próprio Deus (Dt 29.29; Js 1.8; 2Tm 3.15,16; Tg 1.22); a Bíblia também não nos foi dada para satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa (Dt 29.29), que em geral ocasiona especulações esdrúxulas e facções; Ela foi-nos concedida para que conheçamos o seu Autor e, o conhecendo o adoremos e, o adorando, mais o conheçamos (Os 6.3; 2Pe 3.18).8 A Bíblia foi-nos confiada a fim de que, mediante a iluminação do Espírito Santo, sejamos conduzidos a Jesus Cristo (Jo 5.39; Lc 24.27,44), sendo Ele mesmo Quem nos leva ao Pai (Jo 14.6-15; 1Tm 2.5; 1Pe 3.18) e nos dá vida abundante (Jo 10.10; Cl 3.4). Por isso, “ao estudarmos Deus, devemos procurar ser conduzidos a Ele. A revelação nos foi dada com esse propósito e devemos usá-la com essa finalidade”.


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http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/681/Por_Que_Precisamos_da_Biblia