sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A Doutrina da Ira de Deus.

Se os pregadores do passado em alguns momentos sofreram de uma fascinação doentia pelo inferno, os ministros de hoje, incluindo não poucos líderes emergentes, são culpados de uma ambivalência indevida sobre o assunto. [...] É certo que não existe espaço para leviandade no que se refere à ira de Deus, mas será que não há lugar para uma advertência apaixonada e viva? Não é bíblico deixar para trás o agnosticismo em relação ao inferno e implorar às pessoas em favor de Cristo, dizendo “reconciliem-se com Deus” (2Co 5:20)? Será que nosso evangelismo se degenera, nossa pregação carece de autoridade e nossas congregações perdem foco porque não temos a doutrina do inferno bem clara diante de nós para colocar nossa face como seixo na direção de Jerusalém?
Precisamos da doutrina da punição eterna. Por repetidas vezes no Novo Testamento descobrimos que entender a justiça divina é essencial para nossa santificação. Crer no julgamento de Deus de fato nos ajuda a ser mais semelhantes a Jesus. Em resumo, precisamos da doutrina da ira de Deus.
Primeiro, precisamos da ira de Deus para nos mantermos honestos em relação ao evangelismo. Paulo discutiu com Félix sobre justiça, domínio próprio e juízo vindouro (At 24:25). Precisamos fazer o mesmo. Sem a doutrina do inferno, nossa tendência é nos envolvermos em todo tipo de coisas importantes que honram a Deus, mas negligenciarmos aquilo que importa para toda a eternidade, que é insistir com os pecadores a que se reconciliem com Deus.
Segundo, precisamos da ira de Deus para perdoar nossos inimigos. A razão de podermos abrir mão de pagar o mal com o mal é que confiamos na promessa do Senhor, segundo a qual ele retribuirá os ímpios. A lógica de Paulo é sadia. “Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’” (Rm 12:19). A única maneira de deixar para trás nossas feridas mais profundas e as traições que sofremos é descansar seguros de que todo pecado contra nós foi pago na cruz ou será punido no inferno. Não precisamos buscar justiça com as próprias mãos, pois Deus será nosso justo juiz.
Terceiro, precisamos da ira de Deus para podermos arriscar nossa vida em favor de Jesus. A devoção radical necessária para sofrer pela palavra de Deus e o testemunho de Jesus vem, em parte, da segurança que temos de que Deus nos vindicará no final. É por isso que os mártires embaixo do trono clamarão: “Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, esperarás para julgar os habitantes da terra e vingar o nosso sangue?” (Ap 6:10). Eles pagaram o preço derradeiro por sua fé, mas seus clamores manchados de sangue serão respondidos um dia. Sua inocência será estabelecida quando Deus finalmente julgar os que os perseguiram.
Quarto, precisamos da ira de Deus para viver uma vida santa. Paulo nos adverte de que Deus não pode ser zombado. Colheremos aquilo que plantarmos. Somos levados a viver uma vida de pureza e boas obras em função da recompensa prometida pela obediência e a maldição prometida pela desobediência. Se vivermos para agradar à carne, colheremos de Deus a destruição. Mas, se vivermos para agradar ao Espírito, colheremos a vida eterna (Gl 6:6-7). Às vezes os ministros hesitam diante da ideia de motivar pessoas com a ameaça da punição eterna. Mas não foi essa a abordagem de Jesus quando ele disse “não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (Mt 10:28)? Às vezes precisamos literalmente arrancar o inferno das pessoas por meio do medo.
Quinto, precisamos da ira de Deus para entender o significado da misericórdia. Sem a ira divina, a misericórdia divina não tem sentido. Somente quando sabemos que éramos merecedores da ira (Ef 2:3), que já estávamos condenados (Jo 3:18) e que enfrentaríamos o inferno como inimigos de Deus, não fosse a misericórdia imerecida (Rm 5:10), é que podemos cantar de todo o coração “preciosa a graça de Jesus, que um dia me salvou”.
Sexto, precisamos da ira de Deus para entender como o céu será maravilhoso. Jonathan Edwards é famoso (ou mal-afamado) por seu sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. Ele ainda é lido nas aulas de literatura americana, normalmente como uma caricatura do espírito puritano da Nova Inglaterra colonial. Mas poucas pessoas percebem que Edwards também pregou sermões como “O céu é um mundo de amor”. Diferentemente da maioria de nós, Edwards via em cores vívidas o terror do inferno e a beleza do céu. Não podemos ter um quadro claro de um sem o outro. É por isso que a descrição da Nova Jerusalém celestial também contém uma advertência aos covardes, aos incrédulos, aos depravados, aos assassinos, aos que cometem imoralidade sexual, aos que praticam feitiçaria, aos idólatras e aos mentirosos, cujo lugar “será no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 21:8). É improvável que desejemos nossa salvação final sem saber do que somos salvos.
Sétimo, precisamos da ira de Deus para sermos motivados a cuidar de nossos irmãos pobres. Todos nós conhecemos a afirmação de que os cristãos estão de tal modo voltados para o céu que não prestam para nada na terra. A ideia é que, se tudo o que pensarmos for apenas céu e inferno, terminaremos ignorando ministérios de compaixão e justiça social. Mas que melhor impulso para a justiça social do que a sóbria advertência de Jesus de que, se deixarmos de cuidar do menor de nossos irmãos, iremos para a punição eterna? (Mt 25:31-46)? A ira de Deus é um motivador para que mostremos compaixão aos outros, pois, sem amor, como diz João, não temos a vida eterna e, se não compartilharmos nossos bens materiais com os que passam necessidades, não temos amor (1Jo 3:17).
Oitavo, precisamos da ira de Deus para nos prepararmos para a volta do Senhor. Devemos manter as lâmpadas cheias, os pavios aparados, as casas limpas, a vinha cuidada, os trabalhadores ocupados e os talentos investidos a fim de que não sejamos pegos despreparados no dia do acerto de contas. Somente quando crermos plenamente na ira iminente de Deus e tremermos diante da ideia da punição eterna é que ficaremos despertos, alertas e preparados para que Jesus venha outra vez e julgue os vivos e os mortos.
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* Trecho extraído do capítulo 9 do excelente livro Não quero um pastor bacana – e outras razões para não aderir à igreja emergente, de Kevin DeYoung e Ted Kluck (São Paulo: Mundo Cristão, 2011).
Via: Monergismo.com

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Crescimento de Igreja: Com Reforma ou com Reavivamento?

Heber Carlos de Campos

De uns poucos anos para cá, quase da noite para o dia, se compararmos à idade do cristianismo, alguns setores da igreja evangélica têm sido tomados de um desejo incontido de crescimento a qualquer custo. O Movimento de Crescimento de Igreja (1) tem surgido em toda a sua força, e o crescimento tem sido exigido a qualquer preço. Por essa razão, uma coletânea enorme de metodologias e técnicas tem sido empregada para que o sucesso da igreja apareça.
O mais lamentável é que o crescimento de algumas igrejas locais tem sido conseguido às custas do sacrifício da verdadeira doutrina e do abandono de uma liturgia sadia. Com isso, os templos e os salões têm ficado lotados em suas reuniões. Como a evangelização moderna tem sido antropocêntrica, dizendo ao ouvinte aquilo que se pensa que o incrédulo quer ouvir, também a forma do culto tem sido elaborada de modo a atrair pessoas para adorar a Deus. A adoração moderna é planejada para atrair pessoas (os consumidores de música contemporânea) ao invés de ser promovida para que as pessoas levantem os olhos para o céu para cultuar corretamente o verdadeiro Deus. Ao invés de prepararmos pessoas para serem membros do sacerdócio real, da nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, para aprenderem sobre o verdadeiro Deus e a vida eterna em Cristo Jesus, estamos estimulando essas pessoas a apurarem o paladar por aquilo que o entretenimento moderno já lhes apresentou. Antes que verdadeiros adoradores, estamos vendo pessoas preocupadas com o consumo musical e litúrgico, querendo ouvir o que lhes agrada, e não o que agrada a Deus.
Se perguntarmos aos proponentes do Movimento de Crescimento de Igreja, "Por que muitas pessoas hoje não freqüentam aos cultos?" A resposta pronta será: "porque a mensagem e as músicas não são apresentadas ao gosto do público. Nada é feito para que o público seja atraído aos cultos". A culpa toda recai sobre a falta de atualização ou contextualização da adoração cristã. Então, no afã de se ter a igreja lotada, tudo é formulado para agradar aos freqüentadores em potencial. Esse é o método que os ministros ansiosos por sucesso logo buscam. Mas eles se esquecem de que as pessoas não adoram a Deus porque não o amam verdadeiramente, nem têm qualquer disposição para com o verdadeiro Deus, por causa da sua natureza pecaminosa, que é oposta a Deus. Elas amam a si mesmas e querem ser agradadas naquilo de que participam, quando Deus é quem deveria ser amado e agradado no culto que lhe prestamos.
Atualmente, muitas pessoas, inclusive membros de igreja, não estão dispostas a usar a mente, o corpo, a alma, enfim todo o seu ser, numa congregação onde existe um sólido ensino da sã doutrina, uma pregação expositiva fiel da Santa Escritura e uma adoração racional e reverente. Elas preferem uma reunião em que a Palavra é deixada de lado, mas o "louvor" é a tônica, num encontro de fato movimentado, ao paladar do tempo presente. Não há o verdadeiro compromisso com o reino de Deus, mas ainda assim, o crescimento da igreja é a maior preocupação do movimento que utiliza esse nome, mesmo que seja com o prejuízo de elementos fundamentais da verdadeira adoração e da sã doutrina.
O Movimento de Crescimento de Igreja tem se concentrado numa forma de culto ao gosto do espírito de nosso tempo e de uma evangelização barata, ao invés de ser o produto da obra soberana do Espírito de Deus no meio do seu povo, e dum posicionamento correto do seu povo para com a Palavra de Deus.
Contudo, todos os cristãos sensatos entendem que a igreja deve crescer qualitativa e quantitativamente. Qual é, então, o modo pelo qual uma igreja deve crescer? Precisamos de uma reforma ou de um reavivamento?
Esta pergunta não é a forma correta de levantar a questão. É absolutamente certo que precisamos de ambos em nossa igreja contemporânea. Estas duas coisas têm que andar necessariamente juntas. Do contrário, o reavivamento será um fracasso em termos de correção da verdade e a reforma poderá ser um fracasso porque a verdade poderá ser apresentada com aridez doutrinária. Portanto, há que se ter em mente as duas coisas para o bom andamento da igreja de Deus no final deste segundo milênio.
Estudemos a necessidade tanto da reforma quanto do reavivamento para o crescimento de nossas igrejas:

I. A Necessidade de Reforma para o crescimento da Igreja

Aqueles de nós que valorizam os acontecimentos espirituais extraordinários ocorridos durante a Reforma no séc. XVI, anseiam tê-los repetidos na igreja do tempo presente. Juntamo-nos a J. I. Packer que disse:
A palavra Reforma é mágica para o meu coração, assim como estou certo que é para o de vocês. Quando vocês falam em Reforma, imediatamente pensam naquele heróico tempo do séc. XVI, quando muitos eventos momentâneos aconteceram e que ainda brilham ardentemente em nossa imaginação.(2)
A Reforma foi um movimento histórico do séc. XVI, mas ela precisa acontecer de novo, sempre que necessária, na vida da igreja. Precisamos desesperadamente dela outra vez em nossas igrejas, porque estamos em tempo de confusão doutrinária, tempos de vacilação teológica, tempos de incerteza cúltica. Alguns ministros, porém, nem sequer sonham com uma reforma novamente. Provavelmente, eles acreditam possuir razões teológicas para essa posição.
Para tristeza nossa, o nome "Reforma" levanta suspeitas na mente de alguns ministros que querem o crescimento de igreja a qualquer custo, porque o nome "Reforma" relembra um estudo sério da Palavra, compromisso inequívoco com o reino de Deus, rompimento com o erro e com a falsa adoração. A idéia de reforma não é bem-vinda porque vai exigir dos ministros um estudo sério das suas posições, uma reavaliação da sua conduta litúrgica e teológica. Foi isto que a Reforma Protestante exigiu dos ministros de Deus no séc. XVI. E nós estamos longe daquilo que foi proposto no passado. Não obstante a opinião deles, temos que dar uma grande ênfase à necessidade de verdadeira reforma na vida da igreja contemporânea. Muitas coisas da Reforma histórica já foram esquecidas e deixadas de lado. Temos que resgatar a nossa herança Reformada e trazer de volta as belas coisas perdidas.

Definição de Reforma

Reforma é a descoberta da verdade bíblica que conduz à purificação da teologia. Ela envolve a redescoberta da Bíblia como o juiz e o guia de todo pensamento e ação; ela corrige os erros de interpretação; ela dá precisão, coerência e coragem para a confissão doutrinária; ela dá forma e energia à adoração corporativa do Deus triúno.(3)
É disto exatamente que precisamos para que a verdade de Deus seja honrada e o povo de Deus devidamente instruído. Quando Lutero foi confrontado com a verdade de Deus, ele nunca mais a abandonou. Mesmo quando ameaçado pelas autoridades religiosas do seu tempo, apegado ao paradigma da verdade de Deus, Lutero dizia:
A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é nem correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.(4)
O norte de uma reforma dentro da igreja de Deus está, inquestionavelmente, relacionado à volta aos princípios sadios de fé e prática, propostos pela Santa Escritura. A fé tem que ser fundamentada numa consciência cativa à Palavra, para que a verdadeira reforma aconteça em nosso meio.
Ao invés de analisarmos o evento da Reforma do século XVI, que alguns tomam como sendo simplesmente um evento humano, analisaremos uma reforma descrita na história inspirada da redenção, que teve exatamente as mesmas características da Reforma do séc. XVI, porque ambas foram causadas pelo mesmo Deus, o Espírito.
O exemplo bem claro do que acabamos de dizer está registrado na Escritura em eventos ocorridos no tempo do rei Josias (2 Rs 22), que passo a analisar:

A. A redescoberta da verdade de Deus conduz à Reforma da teologia

Há períodos na vida da igreja em que a verdade de Deus fica escondida, ocasionando aridez, sequidão e distância de Deus. Um exemplo bem típico disto está na história da igreja do VT, nos tempos do rei Josias. Naqueles dias, os homens andavam às apalpadelas, sem o conhecimento da lei do Senhor, que lhes estava encoberta.
Ela estava escondida porque os homens ignoravam a verdade da Escritura. As pessoas comuns do povo nem sabiam da existência do Livro da Lei. E essa ausência da Palavra causa a distância de Deus.
Ela estava escondida por falta de interesse na Palavra. O povo ignorava a Lei de Deus porque a liderança não estava interessada nela. Se estivesse, ela procuraria uma cópia da Lei para dar ao povo, mas não havia qualquer interesse, da parte da classe dominante, em que as coisas fossem mudadas. A Lei de Deus, porém, quando levada em conta seriamente, causa mudanças nos paradigmas de um povo. Imaginem como os sacerdotes da época poderiam conduzir o povo de Israel sem o código de fé e prática. A que ponto pode chegar um povo sem a bússola que lhes aponta o norte! Por essa razão havia uma enorme impiedade no meio do povo.
1. Para que haja verdadeira Reforma a Palavra tem que ser redescoberta
Mas o Livro da Lei foi descoberto "casualmente" pelo sacerdote Hilquias. Esta foi a missão do sacerdote Hilquias: Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão Safã: Achei o Livro da Lei na casa do Senhor. Hilquias entregou o livro a Safã, e este o leu (2 Rs 22.8).
O Livro da Lei estava perdido dentro do próprio templo. Isso me faz lembrar da velha senhora que não lia a Bíblia porque havia perdido os óculos, quando estes haviam sido deixados dentro da própria Bíblia. Muitos ignoram a Escritura, quando ela está bem próxima deles, à disposição deles nos lugares onde vivem e adoram.
Os chamados "crentes", se é que são de Deus, têm que redescobrir o valor da Palavra de Deus. Para haver uma reforma genuína, é condição indispensável que haja uma redescoberta do valor da Santa Escritura.
2. Para que haja verdadeira Reforma a Palavra tem que ser devidamente interpretada
Esta foi a missão da profetiza Hulda: Ide, consultai o Senhor por mim, pelo povo e por todo o Judá, acerca das palavras deste livro que se achou; porque grande é o furor do Senhor, que se acendeu contra nós, porquanto nossos pais não deram ouvidos às palavras deste livro, para fazerem segundo tudo quanto de nós está escrito (2 Rs 22.13).
Percebam que o rei Josias queria saber o significado correto daquilo que o Senhor havia escrito no Livro da Lei. Por essa razão, os homens do rei foram enviados para a profetiza, para que ela lhes dissesse o significadodas palavras do Livro da Lei. A palavra da profetiza ali era considerada cheia de autoridade, e ela sabia o sentido que o Senhor queria dar às palavras. Não é importante somente ler a Escritura, mas também entender o seu significado.
A situação da igreja hoje não é muito diferente da situação dos tempos do rei Josias. É verdade que a Bíblia não está escondida literalmente do mesmo modo como ficou no tempo de Josias, mas o seu real sentido e sua real mensagem estão escondidos de muitos crentes hoje. As pessoas têm a Bíblia à sua disposição, mas não conhecem o conteúdo real, nem possuem a hermenêutica correta para a sua devida interpretação. A reforma de uma igreja implica na redescoberta da Palavra de Deus. A conditio sine qua non para que a igreja cresça é o conhecimento correto da verdade de Deus. Os crentes, em geral, precisam redescobrir a verdade de Deus. Este é um desafio que todos nós precisamos aceitar.
Todos hoje usam a Escritura para defender os seus pressupostos. O grande problema, contudo, não é a citação da Escritura, mas o modo como a abordamos. A tarefa hermenêutica da igreja é algo supremamente determinante para o correto entendimento da verdade de Deus.
3. Para que haja verdadeira Reforma a Palavra tem que ser urgentemente proclamada
Esta era também a tarefa da Profetisa Hulda:
Ela (Hulda) lhes disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim: Assim diz o Senhor: Eis que trarei males sobre este lugar, e sobre os seus moradores, a saber, todas as palavras do livro que leu o rei de Judá. Visto que me deixaram, e queimaram incenso a outros deuses, para me provocarem à ira com todas as obras das suas mãos, o meu furor se acendeu contra este lugar, e não se apagará (2 Rs 22.15-17).
A distância da Palavra de Deus faz com que um povo se afaste de Deus. Não é possível ter uma ética sadia sem que se conheça a Palavra do Senhor que dita as normas de comportamento. Por essa ausência da Palavra o povo estava prestes a receber o castigo de Deus. A mensageira de Deus não teve nenhum constrangimento em trazer a verdade da Palavra aos seus contemporâneos. Era uma mensagem dura, mas eles precisavam ouvir o que Deus lhes tinha a dizer. A reforma proposta pela Palavra de Deus tem que ser urgentemente proclamada por aqueles a quem Deus chama para serem ministros da sua Palavra.
A missão de trazer de volta a Palavra de Deus ao povo está na responsabilidade dos verdadeiros ministros da Palavra, aqueles que lidam hoje com o ensino e com a pregação, que são os profetas de Deus. Se os ministros negligenciarem o ensino e a pregação fiel daquilo que o Senhor diz, jamais a igreja será Reformada.
4. Para que haja verdadeira Reforma tem que haver arrependimento de pecados
Esta foi a tarefa de Josias:
Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seriam para assolação e para maldição, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te ouvi, diz o Senhor (2 Rs 22.19).
Josias foi o primeiro a arrepender-se de seu pecado de ignorância da verdade de Deus. O verso 19 foi dito ao rei Josias, e o que aconteceu a ele, veio a acontecer ao seu povo. Foi um arrependimento produto da obra do Espírito de Deus no rei e no seus súditos.
Essas coisas não devem ser diferentes hoje. A igreja de Deus tem que voltar-se para ele, tem que chorar os seu pecado de ignorância da Santa Escritura. Somente quando houver verdadeiro arrependimento é que a Reforma terá sido eficazmente processada.
Não há crescimento quantitativo nem qualitativo da igreja sem que haja a redescoberta da verdade de Deus, sem que haja a interpretação correta da Palavra de Deus, sem que haja a proclamação fiel dela e o conseqüente genuíno arrependimento de pecados, como produto das três primeiras proposições.
O crescimento genuíno da igreja está vinculado a estas reformas que a Palavra de Deus traz. É tolice pensar em crescimento da igreja sem que a base ou o fundamento estabelecido pelos apóstolos e profetas seja devidamente redescobertointerpretadoproclamado e crido. Sem estas coisas há o inchaço, não o genuíno crescimento da igreja.
O segundo grande acontecimento da vida do povo de Deus adveio da reforma da teologia:

B. A Reforma da Teologia conduz à Reforma da verdadeira adoração

Uma teologia sadia leva à prática sadia. Nos tempos de Josias o culto estava deturpado por causa de uma teologia destituída da verdade da Palavra de Deus. Este é o resultado natural mesmo nos dias de hoje. Quando se abandona o ensino da Escritura, quebram-se os padrões de comportamento de um povo, inclusive os elementos constituintes da verdadeira adoração.
Depois da descoberta, da interpretação correta e da proclamação da Palavra de Deus, e o conseqüente arrependimento da liderança do povo, houve algumas alterações muito preciosas no culto que o povo passou a prestar a Deus:
A primeira atitude tomada pelo rei Josias foi convocar todo o povo para que subisse à casa de Deus, para ouvir a leitura do livro da Palavra de Deus que fora encontrado por Hilquias (2 Rs 23.2). Após ouvirem a leitura, o rei e todo povo se dispuseram a seguir a Palavra do Senhor de todo o coração e de toda a alma. A beleza dessa atitude, é que o povo se dispôs a obedecer a todas as palavras, e não somente aos textos que combinavam com o que eles pensavam (2 Rs 23.4).
O resultado principal dessa disposição de obediência, após ouvirem a leitura e a interpretação correta da Palavra, foi a reforma do culto. O culto é essencial para a vida da igreja. Não pensem os caros leitores que o culto é de somenos importância. É no culto que ensinamos e aprendemos. Nos hinos e nos coros é que somos mais indelevelmente marcados doutrinariamente. Portanto, o culto tem uma importância fundamental para a nossa fé. Nesse caso, podemos afirmar categoricamente que, em razão de muitas coisas que estamos percebendo nas reuniões de nossas igrejas, a reforma do culto é extremamente necessária para a vida sadia da igreja cristã.
Para que haja a restauração da verdadeira adoração à luz da verdade bíblica, algumas providências têm que ser tomadas:
1. A eliminação do que é errado do culto
Estas atitudes do rei foram muito duras, mas extremamente necessárias. Provera a Deus que as autoridades eclesiásticas tivessem a mesma santa energia para tomar as providências necessárias para sanar os males existentes na presente adoração cristã, para o benefício do povo de Deus, e para a honra dele.


  • 1a. A eliminação dos sacerdotes que ministravam no culto pagão (2 Rs 23.5)
  • Está evidente do texto sagrado que a atitude extrema do rei Josias com relação aos sacerdotes idólatras, isto é, a sua eliminação do meio do povo de Deus (2 Rs 23.20), não está em consonância com o espírito do tempo presente, mas ao menos podemos dizer que temos que reagir fortemente aos homens que tentam implantar algo que não combina com o que Deus prescreve na Sua Palavra com respeito ao culto. Não se pode ficar passivo quando está em jogo o verdadeiro culto a Deus.
    O que Josias fez com relação aos sacerdotes que não cultuavam verdadeiramente a Deus é algo que as autoridades eclesiásticas deveriam fazer. Os ministros infiéis no serviço do culto deveriam ser destituídos de sua função por não obedecerem os padrões gerais devidamente estabelecidos pela Escritura. Há muitos ministros que fazem o que bem entendem e ninguém lhes põe a mão. Andam à vontade, gesticulam como lhes agrada e agem como agrada ao povo. A falta não é somente dos que erroneamente inovam no serviço divino, mas também daqueles que fazem vista grossa ou que não possuem a devida coerência e noção de disciplina cristãs para destituírem esses ministros de suas funções.


  • 1b. A eliminação dos objetos e utensílios usados no culto pagão (2 Rs 23.4,6,7)
  • Tudo o que é estranho ao culto do Senhor deve ser eliminado dos lugares de verdadeira adoração. Deus deveria ser adorado com os instrumentos prescritos por Ele próprio. Era assim a regra para os cultos prescritos na Escritura do VT. Todos os objetos que eram estranhos ao culto divino, por pertencerem aos cultos de deuses estranhos, deviam ser terminantemente abolidos do templo e das atividades cúlticas.
    Hoje, nos tempos da adoração cristã, devemos ter o mesmo cuidado e o mesmo zelo. Não existe a idolatria nos mesmos moldes daquela época, mas há coisas que se evidenciam bastante estranhas ao culto de nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo. Não me refiro simplesmente a objetos como os mencionados no texto analisado, embora os leitores já tenham ouvido de lenços ou copos de água serem ungidos, ou ainda óleo trazido de Israel servindo de amuleto para a cura de muita gente, ou ainda vinho de Israel, e coisas que tais. Com relação ao culto, então, há a introdução de elementos estranhos que são uma imitação clara daquilo que é usado para as mais loucas manifestações musicais de que se tem notícia em todas as épocas, músicas essas que servem não só para o entretenimento, mas também para manifestações cúlticas ligadas ao maligno. Certamente há algumas coisas que precisam ser revistas em nossa adoração hoje. O problema não é de simples inovação, mas também é de desprezo ao que é antigo, um desprezo à história, ao que nossos ancestrais na fé nos legaram, que podem perfeitamente ser preservados. Da mesma forma que no tempo de Josias os sacerdotes se esqueceram das prescrições antigas, assim os de hoje se esquecem, também.


  • 1c. A eliminação dos altares que eram usados para o culto pagão (2Rs 23.8-15)
  • Josias também aboliu as cerimônias pagãs que campeavam em todo o seu reino. Num tempo assim, as reformas tinham que ser drásticas. Não havia meio de se suportar elementos dos cultos pagãos misturados com o santo culto divino.
    As reformas propostas por Josias foram radicais e, conseqüentemente, benéficas para todo o povo. Antes de reimplantar o que era santo, Josias teve que eliminar o que era impuro. Esta era uma atitude óbvia. Não há modo de se implantar o certo sem retirar o errado.
    É assim que a igreja de Cristo tem que proceder. Não podemos mais tolerar aqueles que querem permanecer no nosso meio alterando aquilo que é certo pelo errado, e ainda colocando-nos na posição de errados, como se estivéssemos na qualidade de "coisas antigas", coisas ultrapassadas. Antigüidade não é sinônimo de obsolescência. Se assim fosse, o que haveríamos de fazer com o evangelho? Se o problema é a importação de cultura estrangeira a americanização ou a europeização em nosso culto, temos de abandonar a cultura judaico-cristã, que tanto influenciou a nossa maneira de pensar e de cultuar a Deus. O que é estranho ao culto cristão tem que ser tirado, não as influências benéficas que recebemos de outros povos que nos trouxeram o santo evangelho.
    2. A restauração do que é certo no culto divino
    Na reforma do culto, não houve a necessidade de inovação, mas da restauração daquilo que era antigo e verdadeiro. Essas coisas precisavam ser trazidas de volta. Eles haviam se esquecido das santas prescrições, das ordenanças antigas da Palavra de Deus. Josias ordenou a volta da celebração cerimoniosa da Páscoa, o ritual que lhes lembrava a redenção! (2 Rs 23.21-22) Aquele momento de culto foi o mais significativo de todas as celebrações desde os dias dos juizes de Israel. Eles celebraram a páscoa do Senhor conforme estava prescrito no livro do Pacto, que provavelmente era o Pentateuco. As celebrações cúlticas devem sempre ser de acordo com as regras de Deus: há preceitos gerais estabelecidos, há regras a serem obedecidas. E elas são bem antigas. Tudo deveria ser feito com ordem e decência, para que o Senhor fosse honrado pela maneira dos homens Lhe cultuarem. Será que hoje tem que ser diferente?
    Uma reforma, contudo, tem que ser acompanhada de um verdadeiro espírito de amor a Deus e de serviço cristão. A Reforma do séc. XVI não foi uma mera purificação teológica ou litúrgica, mas ela foi acompanhada e seguida de um doce espírito de amor a Jesus Cristo, o Salvador, e um grande amor pelos pecadores ignorantes. Milhares de milhares foram trazidos a Cristo naquela época. O Santo Espírito varreu aquelas regiões onde a Reforma chegou. Sem dúvida, foi um tempo de grande reavivamento espiritual.
    Um período de reavivamento costumeiramente é precedido de um período de reforma. Um reavivamento sem reforma pode trazer distúrbios teológicos muito grandes, assim como uma reforma sem reavivamento pode ser comparado ao que aconteceu à igreja de Éfeso, que possuía solidez doutrinária, mas sem o primeiro amor (Ap 2.2-4).
    A Escritura inspirada tem exemplos dessa natureza. Um deles é o acontecido nos tempos do rei Asa. A reforma que veio ao povo de Israel nos tempos do rei Asa durou algum tempo antes do reavivamento começar. Primeiro Asa fez as reformas religiosas instando o povo a buscar a Palavra do Senhor (2 Cr 14.4), fazendo também a reforma do culto (como no tempo de Josias), que constou da derrubada dos altares (2 Cr 14.3, 5). Após essa reforma que trouxe prosperidade ao povo (2 Cr 14.6-7) e vitória sobre as outras nações inimigas (2 Cr 14.9-15), começou o despertamento espiritual do povo, a começar do rei.
    Este orou humildemente ao Senhor confessando a impotência deles e o poder ilimitado de Deus (2 Cr 14.11). A reforma pode começar com o apego à Lei de Deus, que leva aos atos de retidão, mas o reavivamento começa no coração das pessoas com o senso de sua própria impotência e o conseqüente reconhecimento do poder de Deus. Por isso é dito que Asa "clamou ao Senhor". Estas não são palavras jogadas ao vento. Elas expressam o grito inquieto de um coração anelante de Deus e reconhecimento que de Deus vêm todas as coisas, e que a Ele deve ser dada a glória de todas as coisas. O reavivamento do tempo de Asa também foi vinculado à Palavra de Deus que veio ao povo. Isto aconteceu através do profeta Azarias (2 Cr 15.1). Após a palavra profética de Deus, houve grande alegria no meio do povo, porque eles aprenderam que Deus manda reavivamento não somente quando o povo está abatido, mas também quando o povo está cheio de vitórias e de coragem (2 Cr 15.1-19).

    II. A Necessidade de Reavivamento para o Crescimento da Igreja

    A palavra "Reavivamento" soa mais docemente aos ouvidos dos crentes hoje por causa dos santos anelos de vigor espiritual que muitos crentes realmente possuem, mas infelizmente, esse termo tem sido usado impropriamente por alguns advogados aficionados ao movimento do crescimento da igreja. Precisamos desesperadamente de um reavivamento genuíno, e é por isto que verdadeiramente oramos. Sem ele, a igreja do tempo presente, sob muitas pressões teológicas e litúrgicas estranhas de todos os lados, está destinada ao amargamento ou ao conservadorismo árido, do qual todos nós queremos ficar longe.

    Definição de Reavivamento

    Uma definição de reavivamento pode ter várias conotações, dependendo do ângulo abordado. Uma reavivamento tem tantas facetas maravilhosas, que poucos podem defini-lo exaustivamente.
    O historiador da igreja James Buchanan disse que "reavivamento é a comunicação da vida àqueles que estão mortos, e a comunicação da saúde àqueles que estão moribundos."(5) Esta é uma idéia absolutamente correta, mas reavivamento vai muito mais além disso.
    Alguns têm confundido reavivamento com campanhas evangelísticas ou com conferências missionárias. Essas coisas são organizadas pelos homens e Deus pode abençoá-las ou não. Um reavivamento também não é um movimento onde muitas pessoas se encontram para um entretenimento religioso, para que multidões fiquem delirantes com as músicas cantadas e loucamente executadas pela parafernália instrumental muito comum hodiernamente, levantando as mãos como sinônimo de adoração verdadeira. Estas coisas atingem somente um grupo de interessados e amantes das coisas que são apresentadas. Diferentemente de tudo isso, reavivamento é algo provocado pelo Santo Espírito, não o produto daquilo que os homens fazem. Reavivamento é uma onda do Espírito que varre sem que alguém tenha domínio sobre o que Ele faz.

    O sentido estrito de Reavivamento

    Estritamente falando, reavivamento é algo que acontece unicamente no meio da igreja, pois a própria palavra trata de tornar vivo aquilo que já vivera antes. Reavivamento é uma palavra da igreja; ela tem a ver com o povo de Deus. Você não pode reavivar o mundo; ele está morto em delitos e pecados; você não pode reavivar um cadáver. Mas você pode revitalizar onde há vida...(6)
    Neste sentido, a igreja amortecida e tristemente doente é a beneficiária direta do reavivamento.

    O sentido lato de Reavivamento

    Contudo, falando de um modo mais lato, o reavivamento é o movimento de Deus no meio do Seu povo, mas que tem um impacto extremamente positivo na comunidade onde o povo de Deus vive. As pessoas em geral, nunca dantes interessadas em coisas espirituais, voltam-se para Deus num ato-resposta de fé à Sua maravilhosa atuação.
    Reavivamento é a restauração graciosa daquele primeiro amor, do entusiasmo do crente pela expansão do reino, do desejo de viver santamente por amor a Deus, coisas essas que têm sido perdidas na igreja de Deus no correr dos anos, e também consiste no doar divino de uma disposição espiritual intensa e extensa àqueles que nunca tiveram qualquer interesse nas coisas de Deus. Em outras palavras, o reavivamento começa na igreja e termina na comunidade maior onde ela vive. Os efeitos do reavivamento são muito mais perceptíveis nas mudanças morais que acontecem na região ou num país onde ele acontece. Ele não se limita simplesmente aos membros das igrejas atingidas pela obra de Deus. Ele causa impacto em toda a comunidade onde a igreja de Deus está inserida.

    Caraterísticas de um Verdadeiro Reavivamento

    1. Ênfase na Palavra de Deus

    Um reavivamento que é produto da obra do Espírito Santo na igreja, certamente tem sua ênfase naquilo que têm sido esquecido por muito tempo: a Palavra de Deus. A autoridade da Palavra de Deus passa ser algo extremamente forte num movimento genuíno de reavivamento. A Bíblia passa novamente a ser honrada como a única Palavra inspirada de Deus.
    A reforma religiosa e o despertamento espiritual estão intimamente ligados à busca que o povo tem da Palavra do Senhor. O rei Asa "ordenou a Judá que buscasse o Senhor Deus de seus pais, e que se observasse a lei e o mandamento" (2 Cr 14.4). Um reavivamento sem a palavra fica sem norte, sem um rumo a seguir. Por isso, os grandes homens de Deus em tempos de reavivamento, sempre conduziram o povo dentro das prescrições das Santas Escrituras.

    2. Experiência aplicada da Palavra de Deus

    Os ensinos da Bíblia não são verdades que atingem meramente o intelecto, mas elas descem ao coração, fazendo com que elas se evidenciem em matéria prática de vida. Nas palavras de Nettles, "reavivamento é a aplicação da verdade da Reforma à experiência humana."(7) Via de regra, um reavivamento genuíno vem com internalização das doutrinas apreendidas pela Reforma. Uma igreja e uma comunidade atingidas pelo Espírito de Deus possuem verdade descoberta na Reforma experiencialmente crida e vivida pelos seus membros.
    O reavivamento é a descida ao coração humano da verdade de Deus que está clara na Escritura, por obra do Santo Espírito. É a teoria tornada experiência. A maioria dos grandes despertamentos espirituais mencionados na Escritura é uma preciosa combinação de verdadeira reforma e reavivamento.

    3. Desejo pelas realidades eternas prometidas na Palavra de Deus

    As pessoas atingidas pela obra do Espírito passam a viver santamente, tendo seriedade com as verdades das Escrituras como um todo e levam a serio o destino eterno delas. Um senso de profundo arrependimento pelos pecados e anelos de santidade enchem o coração dos atingidos pelo reavivamento. Isso diz respeito à vida dos crentes que até então estavam amortecidos.
    Com respeito à comunidade maior, aos alienados da igreja, surge uma preocupação pelas coisas espirituais nunca outrora vista. O espírito de seriedade para com o destino eterno dessas pessoas é produto direto de uma ação de Deus nelas. Então, elas passam a buscar a verdade e a ter um real desejo da salvação em Cristo. O evangelho lhes é pregado, e muitos são trazidos a Cristo Jesus.

    4. As pessoas são impactadas por uma obra repentina de Deus

    O VT está cheio de exemplos da atuação especial de Deus na vida do povo. O texto de 2 Cr 29.36, dá-nos uma descrição típica de um reavivamento, porque nos diz que Deus fez algo subitamente no meio do povo. Um reavivamento não é provocado por nada neste mundo e, freqüentemente, nem é esperado. Ele vem de repente, numa manifestação graciosa do Todo-Poderoso. Ele simplesmente acontece! A igreja não pode criar reavivamento. Ele é obra exclusiva de Deus, o Senhor.
    Quando há esse impacto da obra do Espírito de Deus na vida da igreja e da comunidade maior, os resultados imediatos do reavivamento na vida da igreja e da comunidade são sentidos: senso inequívoco da presença de Deus; oração fervente e louvor sincero; convicção de pecado na vida das pessoas; desejo profundo de santidade de vida; aumento perceptível no desejo de pregação do evangelho.

    A Necessidade de Reforma e Reavivamento juntos

    Não há meio de se separar reforma de reavivamento. São irmãos gêmeos nas grandes obras de Deus. Esta talvez seja a ênfase que mais nos interessa neste momento, porque as muitas coisas que estão acontecendo no meio da igreja brasileira necessitam de uma definição como esta, que lhes faça plena justiça.
    Quando falamos de crescimento de igreja temos que olhá-lo como uma moeda com dois lados. De um lado é a Reforma; do outro e o Reavivamento. A primeira traz a solidez e a pureza doutrinárias, elementos essenciais para que a igreja cresça qualitativamente; a segunda traz a verdade doutrinária extrema viva e ardente em nossos corações, impulsionando o povo de Deus a uma vida limpa e de testemunho sincero e voluntário da experiência vivida com Deus e a pujante proclamação da verdade da Escritura, elementos absolutamente vitais para o crescimento da igreja. Isto faz com que a igreja também cresça quantitativamente. Perceba que os dois elementos, reforma e reavivamento, são entrelaçados e inseparáveis, porque são causados pelo mesmo Deus. Não há volta à verdade sem Deus e muito menos amor à verdade sem Ele. O curioso é que esses dois elementos estavam presentes em todas os grandes movimentos da história do povo de Deus no VT, no NT , na Reforma Protestante do século XVI, no período dos Puritanos, do Pietismo e do Metodismo, além dos reavivamentos posteriores na Grã- Bretanha e nos Estados Unidos.
    Reforma e Reavivamento dizem respeito à volta às antigas e sãs doutrinas e zelo ardente e cheio de amor por elas e pelo povo de Deus. Não é disso que precisamos novamente? Ainda pairam dúvidas na mente dos leitores sobre a necessidade dessa "dobradinha" de Deus, reforma e reavivamento, para que haja o crescimento genuíno da igreja no Brasil? Por que, então, continuar na ênfase de movimentos que não trazem crescimento qualitativo? Isso não é justo para com o povo de Deus e, muito menos, com o Deus desse povo, de Quem tanto precisamos!


    Conclusão

    A tônica tanto de reforma como de reavivamento é vinculada à Palavra de Deus. A Palavra de Deus é referencial tanto para uma coisa quanto para outra. A Escritura é a norma de conduta para toda a igreja, e quando o Espírito a usa como a espada, ela causa tanto a purificação da doutrina na reforma como a descida dessas verdades à experiência cristã no reavivamento.
    Portanto, embora reforma e reavivamento sejam absolutamente necessários para a vida do povo de Deus, logicamente aquela precede este. Cada um desses movimentos de per se não basta. É necessário que um venha acompanhada do outro. Esse foi o caso de Asa, mas sempre deverá ser a regra em todos os casos para que haja equilíbrio, sensatez, e a verdade seja manifesta de uma forma experiencial.
    Numa reforma sem reavivamento pode haver uma exatidão dos conceitos, mas certamente haverá aridez no pensamento; num reavivamento sem reforma, poderá haver o desequilíbrio emocional e o perigo da distorção da verdade. Na verdade, estas coisas vêm juntas, inseparáveis, como dois dons gêmeos de Deus para o enriquecimento do Seu povo. O poder de Deus num reavivamento tem que ser experimentado à luz das próprias diretrizes doutrinárias que têm origem numa reforma teológica e litúrgica sadias baseadas na Santa Escritura.
    Essas duas coisas absolutamente necessárias para a vida sadia da igreja são causadas pelo Espírito Santo mediante o uso de Sua Palavra. Perceba que é difícil estabelecer uma linha divisória absoluta entre reavivamento e reforma. Por isso ambos devem andar juntos e inseparáveis.
    O que você pode fazer para que essa dobradinha de Deus venha em sua igreja? Comece a estudar a Escritura muito seriamente. Leve em conta tudo o que Deus diz em Sua Palavra. De resto, continue em compasso de esperança, mas fazendo o que fez Habacuque, dizendo incansavelmente: Aviva Senhor a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia(Hc 3.2).
    ___________________________


    Notas

    1 Esse movimento teve início nos Estados Unidos com o missionário Donald A. McGavran. Coube a C. Peter Wagner, que o substituiu como diretor e professor da Escola de Missões Mundiais e do Instituto de Crescimento de Igreja, ambos ligados ao Seminário de Fuller, sistematizar e popularizar os conceitos de Crescimento de Igreja. Seus livros têm sido traduzidos e distribuidos no Brasil. Para uma avaliação crítica do atual movimento ver ainda Theological Perspectives on Church Growth, editado por Harvey Conn (Philadelphia: Presbyterian and Reformed, 1977).
    2 J.I. Packer, Laid Back Religion(Leicester, England: Intervarsity Press, 1993) 145.
    3 Tom Nettles, "A Better Way: Church Growth Through Revival and Reformation", em Power Religion, editado por Michael Scott Horton, (Chicago: Moody Press, 1992) 162.
    4 Citado por Packer, Laid Back Religion?, 145.
    5 Citado por Brian H. Edwards, Revival! A People Saturated with God (England: Evangelical Press, 1990) 26.
    Ibid., 27.
    7 Nettles, "A Better Way," 166.

    segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

    A Cessação dos Dons Apostólicos.

    A opinião de dez líderes da história da Igreja:



    1. João Crisóstomo (344–407)


    A passagem inteira (falando sobre 1 Coríntios 12) é muito obscura, mas a obscuridade é produzida por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, fatos que ocorriam, mas agora não tem mais lugar.

    (Fonte: João Crisóstomo, Homilias em I Coríntios, 36.7 Crisóstomo está comentando 1 Co. 12:1-2 como introdução ao capítulo inteiro. Citado de 1-2 Coríntios in: Ancient Christian Commentary Series, 146.)


    2. Agostinho (354-430)


    Nos tempos antigos o Espírito Santo veio sobre os crentes e eles falaram em línguas, que não haviam aprendido, conforme o Espírito concediam que falassem. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois aquilo foi o sinal do Espírito Santo em todas as línguas [idiomas] para mostrar que o Evangelho de Deus era para ser espalhado a todas as línguas sobre a terra.  Isto foi feito por um sinal, e o sinal findou.

    (Fonte: Agostinho. Homilias sobre a Primeira Epístola de João, 6.10. Cf. Schaff, NPNF, First Series, 7:497-98)


    3. Teodoreto de Ciro (393-466)


    Em tempos antigos, aqueles que aceitaram a divina pregação e que foram batizados para a sua salvação, receberam sinais visíveis da graça do Espírito Santo trabalhando neles. Alguns falaram em línguas que eles não sabiam e que ninguém lhes havia ensinado, enquanto outros realizaram milagres ou profetizaram.  O coríntios também fizeram essas coisas, mas não usaram os dons como deveriam ter usado. Eles estavam mais interessados em se mostrar do que em usar os dons para a edificação da igreja . . . Mesmo no nosso tempo a graça é dada para aqueles que são julgados dignos do santo batismo, mas não pode assumir a mesma forma que possuía naqueles dias.

    (Fonte: Teodoreto de Ciro. Comentário sobra a primeira epístola aos Coríntios, 240, 43; em referência à 1Co 12:1,7.  Citado de 1-2 Coríntios, ACCS, 117).


    4. Martinho Lutero (1483-1546)


    Na Igreja primitiva, o Espírito Santo foi enviado de forma visível.  Ele desceu sobre Cristo na forma de uma pomba (Mt. 3:16), e à semelhança de fogo sobre os apóstolos e outros crentes.  (Atos 2:3) Esse derramamento visível do Espírito Santo foi necessário para o estabelecimento da Igreja primitiva, como também foram necessários os milagres que acompanharam o dom do Espírito Santo. Paulo explicou o propósito destes dons miraculosos do Espírito em I Coríntios 14:22, "as línguas são um sinal, não para os que crêem, mas para os que não crêem".  Uma vez que a Igreja tinha sido estabelecida e devidamente anunciada por estes milagres, a aparência visível do Espírito Santo cessou.

    (Fonte: Martinho Lutero, traduzido por Theodore Graebner [Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1949], pp  150-172. A respeito do comentário de Lutero sobre Gálatas 4:6.)


    5. João Calvino (1509-1564)


    Embora Cristo não declare expressamente se Ele pretende que esse dom [de milagres] seja temporário ou a permaneça perpetuamente na Igreja, é mais provável que os milagres tenham sido prometidos apenas por um tempo, para dar brilho ao evangelho enquanto ele era novo ou em estado de obscuridade.

    (Fonte: João Calvino, Comentário sobre os Evangelhos Sinóticos, III:389.)

    O dom de cura, como o resto dos milagres, os quais o Senhor quis que fossem trazidos à luz por um tempo, desapareceu, a fim de tornar a pregação do Evangelho maravilhosa para sempre.

    (Fonte: João Calvino, Institutas da Religião Cristã, IV: 19, 18.)


    6. John Owen (1616-1683)


    Dons que em sua própria natureza excederam completamente o poder de todas as nossas habilidades, essa dispensação do Espírito há muito cessou e onde ela agora é simulada por alguém, pode ser justamente presumida como um delírio entusiasmado.

    (Fonte: John Owen, Obras, IV:518.)


    7. Thomas Watson (1620-1686)


    Claro, há tanta necessidade de ordenação hoje como no tempo de Cristo e no tempo dos apóstolos, quando então havia dons extraordinários na igreja, os quais agora cessaram.

    (Fonte: Thomas Watson, As Bem-Aventuranças, 140.)


    8. Mattew Henry (1662-1714)


    O que eram esses dons nos é largamente dito no corpo do capítulo [1 Coríntios 12], ou seja, ofícios e poderes extraordinários, concedidos a ministros e cristãos nos primeiros séculos, para a convicção dos descrentes, e propagação do evangelho.

    (Fonte: Mattew Henry, Comentário Completo, em referência a 1 Coríntios 12)

    O dom de línguas foi um novo produto do espírito de profecia e dado por uma razão particular, retirar o judeu e demonstrar que todas as nações podem ser conduzidas à igreja. Estes e outros sinais da profecia, começaram como sinais, e há muito cessaram e foram deixados para trás, e nós não temos nenhum incentivo para esperar um avivamento deles; mas, pelo contrário, somos direcionados para o chamado das Escrituras a mais certa palavra de profecia, mais certa que vozes dos céus, e ela nos orienta a tomar cuidado, a busca-la e se firmar nela.

    (Fonte: Mattew Henry, Prefácio ao Vol IV de sua Exposição do At e NT, vii.)


    9. John Gill (1697-1771)


    Agora esses dons foram concedidos comumente, pelo Espírito, aos apóstolos, profetas e pastores, ou anciãos da igreja, naqueles primeiros tempos: a cópia de Alexandria, e a versão Latina da Vulgata, dizem, "por um só Espírito".

    (Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:9)

    Não; quando estes dons estavam presentes, nem todos os possuíam.  Quando a unção com óleo, a fim de curar o doente, estava em uso, ela só foi executada pelos anciãos da igreja, e não pelos seus membros comuns, que deveriam buscar o doente nesta ocasião.

    (Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:30.)


    10. Jonathan Edwards (1703-1758)


    Nos dias de sua [Jesus] encarnação, os seus discípulos tinham uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo habilitados desta forma para ensinar e fazer milagres.  Mas, depois da ressurreição e ascensão, ocorreu o mais completo e notável derramamento do Espírito em seus dons milagrosos que já existiu, começando com o dia de Pentecostes, depois da ressureição Cristo e Sua ascenção ao céu.  E, em conseqüência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraordinária era dotada de dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim continuou durante a vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, mesmo o apóstolo João, que viveu por cerca de cem anos desde nascimento de Cristo, de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres.

    Mas, logo após a finalização do cânon da Escritura quando o apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse, não muito antes de sua morte, os dons miraculosos tiveram seu fim na igreja. Pois, agora, a revelação escrita da mente e da vontade de Deus estava completa e estabelecida. Revelação na qual Deus havia perfeitamente gravado uma regra permanente e totalmente suficiente para Sua igreja em todas as eras.  Com a igreja e a nação judaica derrotadas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito já não eram mais necessários e, portanto, eles cessaram; pois embora eles tenham continuado na igreja por tantas eras, eles se extinguiram, e Deus fez com que fossem extintos porque já não havia ocasião favorável a eles.  E assim foi cumprido o que está dito no texto: “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;. Havendo ciência, desaparecerá".  E agora parece ser o fim para todos os frutos do Espírito tais como estes, e não temos mais razão de esperar que voltem.

    (Fonte: Jonathan Edwards, sermão intitulado "O Espírito Santo deve ser comunicado ao Santos para sempre, In na graça da caridade, ou amor divino", em 1 Coríntios 13:8)

    Os dons extraordinários foram dados para a fundação e o estabelecimento da igreja no mundo. Mas, depois que o cânon das Escrituras foi concluído e a igreja cristã foi plenamente fundada e estabelecida, os dons extraordinários cessaram.

    (Fonte: Jonathan Edwards, Caridade e seus frutos, 29.)

    Poderiamos adicionar a esta lista outros nomes: James Buchanan, R. L. Dabney, Charles Spurgeon, George Smeaton, Abraham Kuyper, William G. T. Shedd, B. B. Warfield. A. W. Pink, e assim por diante.


    Via: http://obereano.blogspot.com.br/search/label/Cessacionismo

    sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

    Legalismo, um caldo mortífero.

    Por Hernandes Dias Lopes

    Malcon Smith definiu legalismo como um caldo mortífero. Quem dele se nutre adoece e morre. O legalismo é uma ameaça à igreja, pois dá mais valor à forma do que a essência, mais importância à tradição do que a verdade, valoriza mais os ritos religiosos do que o amor. O legalismo veste-se com uma capa de ortodoxia, mas em última análise, não é a verdade de Deus que defende, mas seu tradicionalismo conveniente. O legalista é aquele que rotula como infiéis e hereges todos aqueles que discordam da sua posição. O legalista é impiedoso. Ele julga maldosamente com seu coração e fere implacavelmente com sua língua e espalha contenda entre os irmãos.

    As maiores batalhas, que Jesus travou foram com os fariseus legalistas. Eles acusavam Jesus de quebrar a lei e insurgir-se contra Moisés. Vigiaram os passos do Mestre, censuravam-no em seus corações e desandaram a boca para assacar contra o Filho de Deus as mais pesadas e levianas acusações. Acusaram-no de amigo dos pecadores, glutão, beberrão e até mesmo de endemoniado. Na mente doentia deles, Jesus quebrava a lei ao curar num dia de sábado, mas não se viam como transgressores da lei quando tramavam a morte de Jesus com requinte de crueldade nesse mesmo dia.

    O legalismo não morreu. Ele ainda está vivo e presente na igreja. Ainda é uma ameaça à saúde espiritual do povo de Deus. Há muitas igrejas enfraquecidas e sem entusiasmo sob o jugo pesado do legalismo. Há muitos cultos sem vida e sem qualquer manifestação de alegria, enquanto a Escritura diz que na presença de Deus há plenitude de alegria e delícias perpetuamente. J. I. Packer em seu livro Na Dinâmica do Espírito diz que não há nada mais solene do que um funeral. Há cultos que são solenes, mas não há neles nenhum sinal de vida. Precisamos nos acautelar contra o legalismo e isso, por três razões:

    1. Porque dá mais valor à aparência do que ao coração.
    Os fariseus gostavam de tocar trombeta sobre sua santidade. Eles aplaudiam a si mesmos como os campeões da ortodoxia. Eles eram os separados, os espirituais, os guardiões da fé. Mas por trás da máscara de santidade escondiam um coração cheio de ódio e impureza. Eram sepulcros caiados, hipócritas, filhos do

    2. Porque dá mais valor aos ritos do que às pessoas.
    Os legalistas são impiedosos com as pessoas. Censuram, rotulam, acusam e condenam implacavelmente. Não são terapeutas da alma, mas flageladores da consciência. Colocam fardos e mais fardos sobre as pessoas. Atravessam mares para fazer um discípulo, apenas para torná-lo ainda mais escravo do seu tradicionalismo. Os legalistas trouxeram uma mulher apanhada em flagrante adultério e lançaram-na aos pés de Jesus. Não estavam interessados na vida espiritual da mulher nem nos ensinos de Jesus. Queriam apenas servir-se da situação para incriminar Jesus. Os legalistas ainda hoje não se importam com as pessoas, apenas com suas idéias cheias de preconceito.

    3. Porque dá mais valor ao tradicionalismo do que à verdade.
    Precisamos fazer uma distinção entre tradição e tradicionalismo. A tradição é a fé viva daqueles que já morreram enquanto o tradicionalismo é a fé morta daqueles que ainda estão vivos. A tradição, fundamentada na verdade, passa de geração em geração e precisa ser preservada. Mas, o tradicionalismo, filho bastardo do legalismo, conspira contra a verdade e perturba a igreja. Que Deus nos livre do legalismo. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! Aleluia!

    Fonte: Palavra da Verdade

    quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

    Quem Deve Pregar a Palavra de Deus?

    Catecismo Maior de Westminster[1] Comentado


    Pergunta 158. Por quem deve ser pregada a Palavra de Deus?

    R. A Palavra de Deus deve ser pregada somente pelos que forem suficientemente dotados e devidamente aprovados e chamados para tal ofício.

    Referências bíblicas

    1) Aqueles que pregam a Palavra de Deus publicamente devem possuir obrigatoriamente certas qualificações definidas na Bíblia. 1Tm 3.2, 6; Ef 4.8-11; Os 4.6; Ml 2.7; 2Co 3.6.

    2) A Palavra de Deus deve ser pregada publicamente somente pelos que foram legitimamente chamados para o ofício do ministério da Palavra. Jr 14.15; Rm 10.15; Hb 5.4; 1Co 12.28-29; 1Tm 3.10; 4.14; 5.22.

    Comentário

    1. Essa pergunta do Catecismo trata especialmente de que tipo de pregação da Palavra?

    Trata da pregação da Palavra numa congregação da igreja de Cristo. Pode-se inferir isso das palavras “em público para a congregação” na resposta da Pergunta 156. Quem não for ministro ordenado ou licenciado pode testemunhar de Cristo em particular ou em público, conforme a oportunidade o permita, mas a pregação pública oficial da Palavra na igreja deve ser feita apenas por aqueles devidamente separados para essa obra.

    2. Por que a pregação oficial da Palavra deve ser feita só “pelos que forem suficientemente dotados”?

    Claro está que a pregação da Palavra é uma obra de importância muito grande. São necessárias as qualificações apropriadas para que seja feita da maneira adequada. Há qualificações espirituais, intelectuais e educacionais sobre as quais se deve insistir para que a igreja tenha um ministério adequado. Um homem que não tenha nascido de novo e que não seja um consistente crente em Cristo, não tem obviamente condição de pregar a Palavra de Deus aos outros; seria apenas um cego conduzindo outro. Um homem incapaz de pensar corretamente, incapaz de detectar a falácia de um argumento perverso, é passível de ser ele mesmo desviado por um falso ensinamento e, por sua vez, capaz de desviar outros. Um homem a quem falta educação geral e teológica normalmente não será capaz de fazer justiça à grande obra de pregação da Palavra de Deus e correrá o perigo de pregar uma mensagem desequilibrada ou parcial. Quando Deus chama um homem para a obra do ministério, também o aparelha com as habilidades e qualificações necessárias para que possa realizar a obra adequadamente.

    3. Por que a nossa igreja, e a maioria das igrejas Protestantes, exige a formação superior completa num seminário para o ofício do ministério?

    Quanto mais importante for a obra, mais importante será que tenham o treinamento adequado os que a realizarão. Sempre tem havido quem ache que seja perda de tempo, em maior ou menor grau, gastar sete anos na formação superior num seminário, preparando-se para a obra do ministério. Há hoje em muitas denominações a pressão constante para que essas exigências sejam relaxadas e que sejam admitidos no ministério homens que tenham menos do que isso. Alguns consideram que as matérias ensinadas em um curso superior — como filosofia, história e literatura — sejam inúteis ao ministério e uma perda do tempo que deveria ser investido “ganhando almas”. Há, da mesma maneira, quem pense que um breve “Curso de Bíblia” e mais algumas matérias práticas como a retórica religiosa (homilética) e prática pastoral devam ser suficientes e que o amplo estudo de Hebraico, Grego, História Eclesiástica e Teologia Sistemática sejam desperdício de tempo.

    Ninguém que precisasse passar por uma cirurgia estaria disposto a ir a um cirurgião que obteve o seu treinamento através de atalhos. O Estado insiste, corretamente, que aqueles cujas decisões e ações envolvam a vida ou a morte de seus semelhantes estejam plenamente treinados para o exercício do seu ofício. Quão mais importante é que os ministros do evangelho, cujo trabalho pode afetar o destino eterno de seres humanos, estejam plenamente instruídos para a tarefa a eles designada. Considerando-se o espaço de tempo necessário ao treinamento na medicina e de outras doutas profissões, os quatro ou cinco anos empenhados no curso superior de um seminário não são demasiados para o treinamento ministerial.

    O ministro a quem faltar o treinamento num seminário dificilmente conseguirá entender o mundo moderno ao qual tem de entregar a sua mensagem. O estudo de filosofia, história e de outras matérias acadêmicas está longe de ser uma perda de tempo. Elas apresentam o cenário do pensamento moderno e habilitam o ministro a proclamar todo o conselho de Deus de modo que confronte cabalmente a situação dos dias presentes. Semelhantemente o estudo de Grego, Hebraico, Teologia Sistemática, etc., é qualquer coisa, menos perda de tempo, pois permitem ao ministro conhecer de primeira-mão a Bíblia e seus ensinamentos, e pregar uma mensagem bíblica, consistente e integrada.

    A tendência moderna de cortar os estudos “teóricos” e aumentar os estudos “práticos” na preparação para o ministério é deplorável e deve ser resistida. Existem dois tipos de seminários teológicos e institutos bíblicos. Num deles o alvo é instrumentar o estudante com uma certa quantidade de material pronto com o qual ele pode sair e ir pregar. No outro, o objetivo é colocar nas mãos do estudante as ferramentas do estudo bíblico e da pesquisa teológica e treiná-lo para usá-las corretamente. Daí, então, ele pode sair e pregar e a matéria-prima da sua pregação jamais vai se esgotar enquanto viver. Cremos que este último é que é o único e apropriado tipo de treinamento para a obra do ministério.

    Não se deve entender, pelo que foi dito, que jamais haja exceções a essas regras. É óbvio que alguns dos discípulos do nosso Senhor tiveram pouca ou nenhuma educação formal, mas tornaram-se eficazes ministros da Palavra. Eles, no entanto, gozaram da inestimável vantagem de passarem três anos na companhia de Jesus sob a Sua instrução pessoal. Deus às vezes chama para o ofício ministerial um homem com pouca ou nenhuma educação formal e nesses casos excepcionais, onde está evidente a chamada divina, a igreja não deve hesitar em ordenar o candidato ao ministério. Tais casos, contudo, são muito raros, especialmente em dias em que são normais as oportunidades para a aquisição da educação. Não se deve permitir que a exceção torne-se regra.

    4. Que significa “devidamente aprovados e chamados”?

    Há uma chamada divina para o ministério e uma chamada da igreja. Devemos lembrar sempre que o ministério não é uma profissão, mas um ofício. Ninguém pode simplesmente decidir tornar-se um ministro da mesma maneira que decide tornar-se advogado ou exercer uma linha de trabalho. É preciso ter alguma razão para se crer que seja chamado para o ministério. Isso não quer dizer uma revelação especial do céu, como um sonho ou uma visão, mas a consciência de que se possui em alguma medida as qualificações exigidas, juntamente com o sincero desejo de pregar o evangelho, a disposição para fazer sacrifícios pela causa de Cristo e de empenhar-se para obter a preparação necessária. Deus conduzirá ao ministério, da Sua própria maneira, àqueles a quem Ele chamar.

    A chamada da igreja consiste, primeiro, em autenticar a chamada de Deus pela “devida aprovação” do candidato, suas convicções religiosas, sua habilidade geral e a sua preparação acadêmica e teológica. Essa “aprovação” está normalmente dividida em vários estágios. Primeiro, o candidato é recebido sob os cuidados de um presbitério como estudante para o ministério; depois de uma preparação parcial ele é licenciado para pregar; finalmente, depois de completada a preparação e com o convite de uma congregação ou junta missionária é ordenando ao ofício do ministério.

    A chamada formal da igreja é o convite de alguma congregação para que o candidato venha a ser o seu pastor, ou de alguma junta missionária ou outra agência da igreja visível para que o candidato se engaje na obra missionária local ou no estrangeiro, ou em algum outro aspecto da obra ministerial. Em todo caso, antes que o homem seja ordenado, deve haver uma chamada definitiva — seja para o pastorado de alguma congregação ou de outro campo de trabalho específico.

    5. Por que antes de entrar no ofício ministerial o homem tem de ser devidamente chamado por Deus e pela igreja?

    Nem mesmo o nosso Senhor Jesus Cristo fez de si sumo sacerdote, mas foi chamado por Deus para esse ofício da mesma maneira que Arão o fora (Hb 5.4-5). Apesar disso existem hoje muitos pregadores e missionários freelancers e independentes. Essa é uma tendência errada e deve ser desencorajada. Muitos desses pregadores e missionários independentes podem verdadeiramente ter sido chamados por Deus e podem estar fazendo um bom trabalho pregando a Cristo, e este crucificado; mas há uma certa falta de consideração e negligência da igreja visível como instituição divina comprometida com a atitude deles, e que não pode ser aprovada. O chamado de Deus e o chamado da igreja não são antagônicos, toda verdadeira igreja é instrumento de Deus para o treinamento e o ordenamento de homens no ofício ministerial. Alguns há que, alegando uma piedade superior, sustentam que a chamada de Deus é suficiente e que eles não precisam da chamada e da ordenação da igreja. Essa falta de respeito para com a igreja visível não é bíblica e deve ser desestimulada.

    Extraído do livro Catecismo Maior de Westminster Comentado, por I. G. Vos, Editora Os Puritanos, páginas 508-511
    Do site: http://revistamonergista.blogspot.com.br/

    quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

    Expor o erro: vale a pena?

    Objeções tem surgido até mesmo entre alguns crentes bíblicos em relação a exposição do erro como sendo totalmente negativo e sem produzir real edificação. Ultimamente, o alarido e lamúrias tem sido contra todo e qualquer ensino negativo. Mas os irmãos que assumem esta atitude se esquecem que grande parte do Novo Testamento, tanto dos ensinos de nosso Salvador como dos escritos dos apóstolos foi direcionado a mostrar o verdadeiro caráter dos falsos ministros, mostrando sua origem satânica e, portanto, o perturbador resultado da propagação de ensinos errôneos, o qual Pedro, em sua segunda epístola, assim se refere de forma definitiva como sendo "heresias de perdição".

    Nosso Senhor profetizou que surgiriam muitos falsos profetas, e enganariam a muitos. Em nossos dias, muitos falsos profetas tem surgido; e como muitos tem sido enganados por eles! Paulo predisse isso: "Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai" (Atos 20:29-31).

    Minha própria observação é que esses "lobos cruéis", sozinhos e em alcatéia, não poupam nem mesmo os mais protegidos rebanhos. Pastores nesses "tempos trabalhosos" fariam bem em notar o alerta dos apóstolos: "Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue." (Atos 20:28).
    Isso é tão importante nesses dias como o foi, de fato, nos dias de Paulo, esta importante ação - de expor os muitos tipos de falsos ensinos que, em todos os lugares, abundam mais e mais.

    Somos chamados a "batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos", embora falando a verdade em amor. A fé significa todo o corpo da verdade revelada e batalhar por toda a verdade de Deus implica necessariamente em algum ensino negativo. O poder de escolha não nos é dado nessa questão.
    "Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos. Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo." (Judas 3,4).

    Paulo, de igual maneira, nos admoesta: "E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as." (Efésios 5:11) .

    Isto não implica tratar de forma áspera esses que estão do lado oposto, completamente enlaçados pelo erro. Se a objeção que expor o erro necessita uma ponderação desamável sobre outros que não enxergam as coisas como nós, nossa resposta é: sempre foi o dever de um leal servo de Cristo alertar contra qualquer ensino que o fizesse menos precioso ou restringisse Sua obra redentora e a plena suficiência de seu atual ofício de sumo sacerdote e advogado.

    Todo sistema de ensino pode ser julgado pelo seu posicionamento em relação as verdades fundamentais da fé. "Que pensais vós do Cristo?" (Mateus 22:42) ainda é o verdadeiro teste de toda crença. O Cristo da Bíblia não é certamente o Cristo de qualquer falso "ismo." Cada uma das seitas deste mundo tem certamente sua caricatura horrorosa de nosso amável Deus.

    Deixe-me lembrá-lo que fomos redimidos às custas de Seu precioso sangue para sermos "bons soldados". Como a batalha contra as forças das trevas está se tornando cada vez mais acirrada, precisamos da força do Senhor.

    Há uma constante tentação para a concessão. "Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério." Sempre é correto ficar firme no que Deus já revelou em relação a pessoa e obra de Seu Filho. O "pai da mentira" lança meias-verdades e é especialista principalmente em falácias sutis em relação ao Senhor Jesus, nosso único e suficiente Salvador.

    O erro é como o fermento o qual lemos: "Um pouco de fermento leveda toda a massa." A verdade misturada com o erro é equivalente ao erro total, exceto que aparenta ser mais inocente, portanto, mais perigoso. Deus odeia tal mistura! Qualquer erro, ou qualquer mistura tipo verdade-com-erro deve ser definitivamente tratada com repúdio e ser exposta. Fechar os olhos para isso é ser infiel e enganoso para com Deus ao expor as almas por quem Cristo deu a Sua vida.

    Expor o erro é um trabalho muito impopular. Mas de um ponto de vista verdadeiro é uma tarefa que vale a pena. De nosso Salvador, significa que Ele recebe de nós, pelo Seu sangue que nos comprou, a lealdade que é devida à Ele. Para nós mesmos, se consideramos mais "o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito;" (Hebreus 11:26) assegura recompensa futura, mil vezes dobrada. E para as almas "que se pescam com a rede maligna, e como os passarinhos que se prendem com o laço" (Eclesiastes  9:12) Deus pode ainda significar enquanto viverem neste mundo a possibilidade de ser luz e vida, abundante e eterna.